ESTRATÉGIAS E MÉTODOS DE TRADUÇÃO

Neste artigo, pretendemos esboçar alguns argumentos acerca O objetivo deste trabalho é discutir sobre o uso de estratégias e métodos de tradução, como também superficialmente analisar, de acordo com as linhas teóricas estudadas durante o curso de tradução, a tradução publicada do texto “The Unicorn in the Garden” de James Thurber.  Pretendemos destacar aspectos quanto ao uso de diferentes modalidades nos textos traduzidos, discutir sobre o posicionamento das palavras nas frases traduzidas, como também destacar algumas especificidades em relação a estrutura do conto. Além disso buscaremos mostrar alguns aspectos relevantes sobre o uso de estratégias e métodos de tradução que melhor se adequam aos mais diferentes contextos. Nossa proposta aqui é fazer uma breve análise da tradução publicada (que será referida como – TP) do texto “The Unicorn in the Garden” de James Thurber.
Ao mesmo tempo em que analisaremos essa tradução publicada, faremos também uma rápida comparação dos textos com a nossa tradução (que será referida como – NT), neste caso tendo como referência o mesmo texto fonte (que será referido como – TF). Na TP e na NT destacaremos o uso de diferentes modalidades nos textos traduzidos. Acerca do uso de modalidades no processo de tradução, para tanto, nos apoiaremos em Aubert (1998). No que diz respeito ao posicionamento das palavras, verbos adjetivos e advérbios etc., nas frases traduzidas, contaremos com as contribuições de Benedetti, (2010, online). Para termos um olhar especial em relação a estrutura do conto, teremos o apoio de Allegro (2009). Com o intuito de reforçar as ideias de Allegro (2009), nos apoiaremos também nos apontamentos de Ilari (2013) que discute, entre outros aspectos relevantes, sobre o uso da linguagem para se comunicar, neste caso algumas falas dos personagens do conto em questão, traduzidas e que aqui serão analisadas. Além de uma breve discussão sobre estratégias e método de tradução, após essa humilde analise do conto, “The Unicorn in the Garden”, esperamos atingir os objetivos aqui propostos.
Nosso artigo pretende fazer uma breve reflexão sobre o uso de estratégias no processo de tradução de diversos tipos de textos e as implicações nas escolhas dessas estratégias. Para tanto, nos apoiaremos nos apontamentos de Mittmann (2008) que discorre a respeito de tradução sob o ponto de vista discursivo, sobre a ótica da Análise do Discurso (Escola Francesa, doravante AD). Outras ideias de conhecidos autores que discorrem sobre técnicas e estratégias usadas no processo tradutório, entre eles estão Pagano (2000) e seus colaboradores que tratam sobre a competência em tradução, examinando seus aspectos cognitivos e discursivos que os tradutor, seja ele novato ou experiente, precisa desenvolver ou sempre melhorar.
Contaremos também com Gentile (1996) e sua equipe acerca de possíveis esclarecimentos sobre princípios básicos nas práticas de “Liaison Interpreting” muito reconhecida na área de “business”, jurídica, medicina etc. Nosso principal interesse é descobrir possíveis habilidades que o tradutor-interprete precisa desenvolver mesmo que ele seja um indivíduo bilíngue. Na obra de Hatim & Mason (1997), buscaremos suporte em seus apontamentos, sobretudo, no que diz respeito a estudo da tradução, abordagens teóricas e técnicas tradutórias que evitam problemas na tradução. Procuraremos em Aubert (2012) a base necessária entender as modalidades que eventualmente melhor se encaixam nos diversos contextos socioculturais e usos da língua e da linguagem. O mesmo autor discute sobre a interrelação entre os estudos terminológicos e os estudos tradutológicos, tendo em vista a produção de materiais terminológicos bilíngues confiáveis como suporte para a atividade tradutória. Finalmente, buscaremos explorar ao máximo as teorias da tradução desenvolvida no século xx sob a visão dos renomados autores Baker (1992/1998/) e Venuti (1995).

A Análise do Conto e os Pressupostos Teóricos
Nos fragmentos observados a seguir faremos uma breve análise quanto ao uso das modalidades presentes na obra de Aubert (1998). Para darmos início a nossa proposta, podemos começar com os trechos seguintes.
TF
Once upon a sunny morning a man who sat in a breakfast nook looked up from his scrambled eggs to see a white unicorn with a golden horn quietly cropping the roses in the garden.
TP
Era uma vez, numa manhã de sol, um homem que estava sentado à mesa tomando seu café da manhã. Num momento, ele olhou dos seus ovos mexidos para fora da casa e viu um unicórnio branco com um chifre de ouro calmamente comendo as rosas do jardim.
NT
Era uma manhã ensolarada um homem sentado à mesa da cozinha olhava sobre os ovos mexidos e pela janela via um unicórnio branco com um chifre dourado calmamente mastigar as rosas no jardim.

Na TP e na NT podemos destacar o uso da modalidade addition. O tradutor incluiu as palavras (num momento) por conta própria. Nós também incluímos (cozinha / pela janela), pois no fragmento do (TF) acima essas palavras não estão presentes. Mas isso não significa necessariamente um problema no processo de tradução. Na visão de Aubert (1998), adição é “Any textual segment included in the Target Text by the translator on his/her own account, not motivated by any explicit or implicit content of the original text. Addition must therefore not be mistaken for one of the forms of transposition (one word translation as a sequence of words – phrase), nor for explicitation”. (AUBERT, 1998, p.9).
TF
The man went up to the bedroom where his wife was still asleep and woke her. "There's a unicorn in the garden," he said. "Eating roses." She opened one unfriendly eye and looked at him. "The unicorn is a mythical beast," she said, and turned her back on him. The man walked slowly downstairs and out into the garden.
TP
O homem subiu para o quarto onde sua esposa ainda estava dormindo e a acordou. "Tem um unicórnio no jardim," ele disse. "Comendo rosas." Ela abriu um olho, não muito amigável, e olhou para ele. "O unicórnio é uma besta mítica," ela disse, e deu-lhe as costas. O homem desceu vagarosamente as escadas e foi para o jardim.
NT
O homem foi até o quarto onde sua esposa ainda estava dormindo e a acordou. "Há um unicórnio no jardim", disse ele. "Comendo as rosas". Ela lhe deu uma hostil olhada. "O unicórnio é um animal mítico", disse ela, e virou-lhe as costas. O homem lentamente desceu as escadas e foi ao jardim.

 Para a tradução do fragmento no TF (She opened one unfriendly eye and looked at him) o tradutor colocou no TP (Ela abriu um olho, não muito amigável, e olhou para ele). Em vez disso, optamos por colocar na NT (Ela lhe deu uma hostil olhada). Nós fizemos o uso da modalidade transposição. Em contra partida, o tradutor do TP usou a modalidade Literal translation. Em relação a ultima modalidade, Aubert (1998) afirma: “Within the descriptive model presented herein, literal translation is synonymous of word-for-word translation, in which, upon comparing the Source Text segment and the Target Text segment, one finds (i) the same number of words, in (ii) the same syntactical order, employing (iii) the ‘same’ word classes and (iv) the lexical choices can be contextually described as interlinguistic synonyms, e.g.: Her name is Mary ↔ Seu nome é Maria”. (AUBERT, 1998, p.6).
Na NT percebemos a presença da modalidade Transposition e que difere da opção feita pelo tradutor do TP. Aubert (1998) pondera que “This modality occurs whenever at least one of the three first criteria for literal translation is not met, i.e., whenever morphosyntactic rearrangements take place. Thus, for instance, if two or more words are collapsed into a single word (as in I visited Visitei) or, on the contrary, expanded into several lexical units (e.g. Kindergarten Jardim de Infância), or if the word order is altered in any manner (as in remedial action ação saneadora), or if there is a change in word class (e.g. should he arrive late se ele chegar atrasado) or any combination of these is found, however ‘literal’ the respective meanings may be said to be, they are not structurally literal, and are classified as transpositions.” (AUBERT, 1998, pp.7-8).
A frase do TF (The man walked slowly downstairs and out into the garden) foi traduzida no TP (O homem desceu vagarosamente as escadas e foi para o jardim) e na NT (O homem lentamente desceu as escadas e foi ao jardim). Vemos que a posição dos advérbios (vagarosamente e lentamente) estão em locais diferentes, no que diz respeito a ordem das palavras na frase. Neste caso, aparentemente nenhum problema é visto e nem soa estranho quando lemos as traduções. Para nós, essa sensação acontece porque a língua portuguesa tem grande flexibilidade com as palavras. Entretanto, em línguas estrangeiras, por exemplo, inglês e francês não têm essa flexibilidade. Benedetti (2010), ao falar sobre a prática de tradutores e também sobre o uso da primeira língua por falantes nativos em geral, percebemos uma crítica muito severa em relação ao uso da modalidade decalque - quando temos palavras de língua estrangeiras usadas como se fossem palavras da língua do falante, em sua língua nativa.
A propósito, não percebemos a presença do uso dessa modalidade nos textos traduzidos. Contudo, acerca do posicionamento das palavras em textos (em línguas diferentes), Benedetti (online) afirma o seguinte: “A criação de estruturas estranhantes em certos idiomas é um ato de coragem. Isso ocorre em inglês e francês, por exemplo, línguas nas quais as posições de sujeitos, verbos, objetos e advérbios são legisladas com mão de ferro. O oposto é o português. Temos uma flexibilidade espantosa. Chegamos às raias da anarquia. Metemos os advérbios onde bem entendemos, podemos criar verdadeiros bailes de sujeitos e verbos numa troca atordoante de passos. Intercambiamos infinitivos e gerúndios com a maior cara de pau e não somos capazes de perceber a diferença entre este e o particípio presente porque reduzimos tudo a um denominador incomum, e ninguém parece se escandalizar”. (BENEDETTI, 2010, ONLINE).
TF
The unicorn was still there; he was now browsing among the tulips. "Here, unicorn," said the man and pulled up a lily and gave it to him. The unicorn ate it gravely.
TP
O unicórnio ainda estava lá; ele agora estava mastigando as tulipas. "Aqui, unicórnio," disse o homem, e ele pegou um lírio e o deu ao animal. O unicórnio comeu o lírio serenamente.
NT
O unicórnio ainda estava lá; ele agora estava andando entre as tulipas. "Aqui, unicórnio", disse o homem dando um lírio para o animal. Sem hesitar, o unicórnio comeu a planta.

O fragmento no TF (he was now browsing among the tulips) foi traduzido no TP como (ele agora estava mastigando as tulipas), porém na NT preferimos (ele agora estava andando entre as tulipas), pois acreditamos que (andando em vez de comendo) é o que o TF sugere. Para a tradução do idioma inglês para o português encontramos (to browse = navegar olhar, olhar sem interesse ou olhar despretensioso). Contudo, não ficamos satisfeitos com essas definições e ao pesquisarmos um pouco mais, encontramos alguns sinônimos em inglês para o verbo (to browse = to graze, surf, range, pasture, shop etc.). Entretanto, apesar de não vermos nenhum problema na opção feita pelo tradutor do TP, nossa escolha nos agradou mais nesse caso. Além disso, fizemos o uso da modalidade adição quando inserimos as palavras (sem hesitar), pois isso não aparece no TF. Por sua vez, o tradutor do TP fez uma tradução mais próxima da tradução literal, pois, para efeito de entendimento do leitor, todos nós optamos por usar substantivos em vez de pronomes, os quais se fazem presentes em todo o TF e nem sempre se repetem nos textos TP e NT.
TF
With a high heart, because there was a unicorn in his garden, the man went upstairs and roused his wife again. "The unicorn," he said, "ate a lily." His wife sat up in bed and looked at him, coldly "You are a booby," she said, "and I am going to have you put in a booby-hatch."
TP
Feliz da vida, porque havia um unicórnio em seu jardim, o homem subiu as escadas e acordou sua mulher novamente. "O unicórnio," ele disse "comeu um lírio." Sua esposa se sentou na cama e olhou para ele, friamente. "Você é insano," ela disse "e eu vou te mandar para o manicômio."
NT
Emocionado, pois havia um unicórnio em seu jardim, o homem subiu as escadas e novamente acordou sua esposa. "O unicórnio", disse ele, "comeu um lírio." Sua esposa ​​sentou-se na cama e olhou para ele, friamente" Você é um louco", disse ela, "e eu vou te mandar para um asilo”.
TF
The man, who never liked the words "booby" and "booby-hatch," and who liked them even less on a shining morning when there was a unicorn in the garden, thought for a moment. "We'll see about that," he said. He walked over to the door.
TP
O homem que nunca gostou das palavras "insano" nem "manicômio," e que gostava ainda menos de ouvi-las numa manhã de sol quando havia um unicórnio em seu jardim, pensou por um momento. "Veremos," ele disse. Ele andou em direção à porta.
NT
O homem que nunca gostou das palavras “louco" e "asilo", e dessas palavras gostava menos ainda em uma manhã de sol radiante e quando havia um unicórnio no jardim, pensou por um momento. "Vamos ver", disse ele. E caminhou até a porta.
TF
"He has a golden horn in the middle of his forehead," he told her. Then he went back to the garden to watch the unicorn; but the unicorn had gone away. The man sat among the roses and went to sleep. 
TP
"Ele tem um chifre de ouro no meio de sua testa," ele disse para ela. Então ele voltou para o jardim para ver o unicórnio; mas este já se tinha ido. O homem sentou-se entre as rosas e caiu no sono.
NT
"Ele tem um chifre dourado no meio de sua testa," disse a ela. Em seguida, ele voltou para o jardim para observar o unicórnio; porém o animal já havia partido. O homem sentou-se entre as rosas e caiu no sono.
TF
And as soon as the husband had gone out of the house, the wife got up and dressed as fast as she could. She was very excited and there was a gloat in her eye. She telephoned the police and she telephoned the psychiatrist; she told them to hurry to her house and bring a strait-jacket.
TP
Assim que seu marido foi para fora de casa, a esposa levantou-se e se vestiu o mais rápido que pôde. Ela estava muito excitada e havia um brilho doentio em seus olhos. Ela telefonou para a polícia e telefonou para o psiquiatra; ela disse para eles terem pressa em chegar a sua casa e para que trouxessem uma camisa de força.
NT
E assim que o marido se ausentou da casa, a mulher levantou-se e se vestiu o mais rápido que podia. Ela estava muito agitada e com um olhar maligno. Ela ligou para a polícia e para o psiquiatra; dizendo para virem rapidamente a sua casa e trazer uma camisa de força.
TF
When the police and the psychiatrist looked at her with great interest. "My husband," she said, "saw a unicorn this morning." The police looked at the psychiatrist and the psychiatrist looked at the police. "He told me it ate a lily," she said.
TP
Quando os policiais e o psiquiatra chegaram eles se sentaram em cadeiras e olharam para ela, com grande interesse. "Meu marido," ela disse "viu um unicórnio esta manhã." Os policiais olharam para o psiquiatra e o psiquiatra olhou para os policiais. "Ele me disse que o animal comeu um lírio," ela disse.
NT
Quando a polícia e o psiquiatra questionaram a mulher com grande interesse. "Meu esposo”, disse ela, "viu um unicórnio esta manhã.” A polícia e o psiquiatra se olharam. "Ele me disse que o unicórnio comeu um lírio”, acrescentou ela.
TF
The psychiatrist looked at the police and the police looked at the psychiatrist. "He told me it had a golden horn in the middle of its forehead," she said. At a solemn signal from the signal from the psychiatrist, the police leaped from their chairs and seized the wife.
TP
Os policiais olharam para o psiquiatra e o psiquiatra olhou para os policiais. "Ele me disse que o bicho tinha um chifre de ouro no meio da testa," ela disse. A um sinal solene do psiquiatra, os policiais levantaram-se dum pulo de suas cadeiras e agarraram a esposa.
NT
Olharam-se novamente. Ela continuou. “Ele me disse que o unicórnio tinha um chifre de ouro no meio da testa", De maneira solene o psiquiatra e a polícia saltaram de suas cadeiras e agarraram a mulher.

Vemos que na TP ("Era tudo que eu queria saber,") há a omissão do pronome (that) e na NT ("Isso é tudo o que eu queria saber") a omissão não ocorre. Entretanto, obviamente neste caso, acreditamos que essa omissão não afeta o entendimento do leitor. Porém essa possibilidade existe. Para Allegro (2009), em um conto literário, nada deve ser tirado ou adicionado, pois tudo é pensado sob medida. Uma subtração ou um acréscimo pode levar o leitor a interpretação diversa. A tradução no TP ("O senhor disse a sua esposa que viu um unicórnio?") parece ser a escolha mais adequada comparado com a nossa escolha para a NT (“Você disse a sua esposa que tinha visto um unicórnio?”).   Fizemos uma tradução literal (you = você) enquanto o tradutor da TP fez uma adaptação. Provavelmente ele pensou na maneira como um policial falaria com o casal. De fato, para o pronome de tratamento (você), a palavra (Senhor) soa bem melhor na tradução ou transcrição da fala do policial.
Segundo Ilari (2013), "Existem na língua expressões que são adequadas para a formação vaga dos fatos que se quer narrar ou descrever, mas que devem ser evitadas quando se pretende uma formulação mais exata." (ILARI, 2013, p.47). Esse autor explica que existem nomes de pessoa, apelidos ou jeitos especiais para se referir a um indivíduo ou a um grupo de pessoas em um diálogo, por exemplo. Assim sendo, quando o policial faz uso da linguagem para se comunicar com o personagem do conto (o esposo), ele precisa adequar o jeito de falar e de se comunicar com o personagem. Esse mesmo policial, naturalmente, pode ser capaz de mudar sua linguagem para falar com outros indivíduos em diversos outros contextos.
TF
"Take her away. I'm sorry, sir, but your wife is as crazy as a jay bird." So they took her away, cursing and screaming, and shut her up in an institution. The husband lived happily ever after. 
TP
"Levem-na. Sinto muito senhor, mas sua esposa está doida de pedra." Então eles a levaram, praguejando e gritando, e a trancaram num hospício. O marido viveu feliz para sempre, desde então.
NT
"Pode leva-la. Sinto muito, senhor, mas sua esposa está lelé da cuca". Então, eles a levaram, xingando e gritando, e trancou a mulher em um asilo. O marido viveu feliz para sempre.

Tanto no TP (mas sua esposa está doida de pedra) quanto no NT (mas sua esposa está lelé da cuca) percebemos o uso da modalidade adaptação. “This modality is typically a cultural assimilative procedure; i.e., the translational solution adopted for the given text segment establishes a partial equivalence of sense, deemed sufficient for the purposes of the translational act, but abandons any illusion of ‘perfect’ equivalence, including cultural false cognates”. (AUBERT, 1998, p.8). Acreditamos que, nesse caso, apesar de haver distinção entre as nossas escolhas, elas sejam bem aceitas pelos leitores brasileiros.
TF
Moral: Don't count your boobies until they are hatched. 
End
TP
MORAL: Não conte com o ovo no cú da galinha!
NT
Moral: Cautela nunca é demais.
Fim.

Além da omissão de alguns pronomes nos textos traduzidos para o idioma português, nos fragmentos acima, percebemos alguns detalhes quanto à escolha lexical, porém nosso trabalho não nos permite discutir todos eles. Portanto, nos debruçaremos apenas sobre as seguintes escolhas: mulher\esposa. Na TP (A um sinal solene do psiquiatra, os policiais levantaram-se dum pulo de suas cadeiras e agarraram a esposa.) e na NT (De maneira solene o psiquiatra e a polícia saltaram de suas cadeiras e agarraram a mulher). A escolha da palavra esposa em vez de mulher, especificamente neste caso, a opção do tradutor do TP preserva o valor da palavra no contexto (casamento) enquanto a escolha da palavra mulher pode levar o leitor a entender que essa não seja necessariamente a esposa. Acreditamos que manter ou preservar a essência e os valores das palavras (wife = esposa), principalmente seus valores semânticos nesse contexto, deve ser uma obrigação e tarefa do tradutor. Contudo, além desse exemplo, essa preocupação se perde parcialmente em ambos os textos (TP e NT), pois em outras passagens a palavra (wife) foi traduzida às vezes como esposa e às vezes como mulher.
TF
They had a hard time subduing her, for she put up a terrific struggle, but they finally subdued her. Just as they got her into the strait-jacket, the husband came back into the house. 
TP
Eles tiveram muito trabalho para dominá-la, pois ela resistiu com muita força, mas eles finalmente a dominaram. Assim que eles a puseram dentro da camisa de força, o marido voltou para dentro de casa.
NT
Foi difícil segurá-la, pois ela resistia a todo custo, no entanto eles finalmente conseguiram controlá-la. Assim que eles colocaram nela a camisa de força, o marido retornou.

 Novamente, para discutirmos sobre os trechos acima acerca do uso da modalidade transposição, recorremos a Aubert (1998). Ele afirma que a transposição ocorre quando essa modalidade, de alguma maneira, se difere da tradução literal. Sendo assim, no TP, podemos dizer que houve o uso da modalidade transposição (Eles tiveram muito trabalho para dominá-la, pois ela resistiu com muita força, mas eles finalmente a dominaram.). Já em NT, quanto a modalidade, está mais próxima de modulação (Foi difícil segurá-la, pois ela resistia a todo custo, no entanto eles finalmente conseguiram controlá-la). Como aponta Aubert (1998), a modulação é semelhante à transposição, entretanto “Modulation is said to occur whenever a given text segment is translated in such a manner as to impose an evident shift in the semantic surface structure, albeit retaining the same overall meaning effect in the specific context and co-text. What makes modulation different from transposition is that the translational equivalence can only be recovered by observing the context-bound sense”. (AUBERT pp.7-8).
TF
"Did you tell your wife you saw a unicorn?" asked the police. "Of course not," said the husband. "The unicorn is a mythical beast." "That's all I wanted to know," said the psychiatrist.
TP
"O senhor disse a sua esposa que viu um unicórnio?" perguntou um dos policiais. "Claro que não," respondeu o marido. "O unicórnio é uma besta mítica." "Era tudo que eu queria saber," disse o psiquiatra.
NT
"Você disse a sua esposa que tinha visto um unicórnio?” perguntou o policial. "Claro que não", disse o marido. "O unicórnio é um animal mítico." "Isso é tudo o que eu queria saber", falou o psiquiatra.

 Acima, no fragmento do texto publicado (TP) encontramos a modalidade “adaptation” na tradução da moral do conto. Com base nos apontamentos de Aubert (1998), “This modality is typically a cultural assimilative procedure; i.e., the translational solution adopted for the given text segment establishes a partial equivalence of sense, deemed sufficient for the purposes of the translational act, but abandons any illusion of ‘perfect’ equivalence, including cultural false cognates”. (AUBERT, 1998, p.8). No mesmo fragmento também observamos uma Omission (Fim), palavra que está presente no TF e NT, porém foi omitida no TP. Acerca dessa modalidade Aubert diz o seguinte: “Omission occurs whenever a given text segment of the Source Text and the information it contained cannot be traced in the Target Text. This qualification is required because, in a number of instances, although the one-to-one correspondence is lost, the information as such is nevertheless recoverable within the Target Text, as in transpositions and implicitations”. (AUBERT, 1998, p.5). Essa omissão ocorre no final do conto e talvez, a nosso ver, não apresente nenhum problema grave. Entretanto, a omissão nas primeiras ou nas ultimas linhas de um conto, de acordo com ALLEGRO (2009), não é uma opção recomendada. Ela ressalta que omitir ou substituir palavras do texto fonte no texto alvo pode causar uma falta muito grande para o leitor. Na medida do possível, o tradutor deve respeitar as características do texto original, caso contrário, as ideologias presentes no texto fonte podem não ser preservadas no texto alvo. Allegro reforça que nada no conto é aleatório. Para ela, no conto cada elemento textual tem valor de ouro. Dessa forma, podemos dizer que nesse gênero textual nada deve ser desconsiderado, pois todos os elementos exercem funções pré-estabelecidas pelo autor.
Ao ler no texto fonte (TF) a moral da história, optamos por outra modalidade, a fim de evitar a palavra obscena presente no fragmento acima (TP). Por isso no primeiro momento, em nossa tradução (NT) optamos por Transposition.“This modality occurs whenever at least one of the three first criteria for literal translation is not met, i.e., whenever morphosyntactic rearrangements take place”. (AUBERT, 1998, p.7). Para este autor, se, por exemplo, algumas palavras são traduzidas em uma única palavra (I visited = visitei) ou se houver mudanças na classe de palavras (should he arrive late = se ele chegar atrasado) ou ainda a combinação disso tudo, porém o enunciado expressa a mesma ideia apesar de não apresentar a mesma estrutura, podemos chamar de transposição. Isso foi o que veio a nossa mente quando traduzimos a moral do conto TF (Moral: Don't count your boobies until they are hatched) para NT (Moral: Cautela nunca é demais) e TP (MORAL: Não conte com o ovo no cú da galinha!).
Mudança de plano. Ao lermos nossa tradução, percebemos que a modalidade que primeiramente escolhemos não se encaixava bem e por isso mudamos a nossa percepção quanto a modalidade. Para tanto, recorremos a Aubert (1998), pois como a modulação é semelhante à transposição, um olhar despercebido pode levar a uma possível confusão acerca dos conceitos. Provavelmente, isso foi o que nos ocorreu, pois (Cautela nunca é demais) é muito mais que uma transposição; acreditamos que seja uma modulação. Por isso, consideramos essa mudança, como sendo uma opção mais assertiva, comparada com a anterior. Contudo, para a moral do conto, vemos a opção do tradutor do TP bem mais apropriada do que a nossa opção. Allegro (2009) fala sobre inadequações nos textos traduzidos. Com base em seus estudos, ela apresenta o seguinte trecho: “The next to the Hell is taken by the translator Who intentionally skips words or passages that He does not bother to understand or that might be obscure or obscene to readers (...).” (ALEGRO, 2009, p.11). Definitivamente, essa passagem nos convenceu a concordar com a opção da tradução da moral no TF, pelo tradutor do TP. Apesar de não haver nenhuma palavra obscena no TF, a adaptação da moral (Não conte com o ovo no cú da galinha!) nos parece adequada nesse contexto. Ainda assim, daríamos preferência a transposição (não conte com o ovo ainda na galinha).
Ao longo de nosso trabalho, podemos enxergar através de Benedetti (2010), que a língua portuguesa tem grande flexibilidade com as palavras. Entretanto, essa flexibilidade dificilmente está presente em línguas algumas línguas estrangeiras, como o inglês e francês. Além disso, percebemos que o posicionamento das palavras em textos de línguas estrangeiras ”são legisladas com mão de ferro” e que são muito diferentes do nosso idioma português. Após o contato com as ideias de Allegro (2009), o que para nós representava uma atitude inofensiva a estrutura do conto, agora nos faz olhar para esse gênero textual com outros olhos. Isso nos servirá de base a futures analise e traduções de outros textos cujos gêneros se assemelham e para tradução de textos em geral. Percebemos que é preciso ler com muita atenção. Muito vezes um olhar de raio-x é exigido para que possamos enxergar o que não pode ser observado através de uma leitura desatenta por parte do tradutor. Para concluímos essa breve análise e nos debruçar as estratégias e métodos de tradução, podemos afirmar que no processo de tradução podemos nos servir em um Buffet de opções e recursos tradutórios, porém é preciso saber quais opções se enquadram melhor aqui ou ali. Percebemos que tanto na NT quanto na TP foram utilizadas modalidades similares e em outros momentos as modalidades se diferem. No entanto, em ambos os textos, as modalidades soaram bem aos nossos ouvidos e desejamos que o leitor tenha essa mesma impressão.
A tradução é um campo de estudo relativamente novo comparado a outras áreas. Mona Baker (1992) discorre sobre a tradução e o tradutor, comenta sobre esse profissional e como ele era visto no passado e, também, quanto a visão que se tem do tradutor moderno. Antigamente, acreditava-se que o tradutor já nascia com o dom para lidar com as línguas e carecia de poucos estudos para exercer a sua profissão. Essa ideia não se aplica nos dias de hoje, pois qualquer indivíduo interessado em aprender um idioma estrangeiro e eventualmente trabalhar como tradutor é capaz de aprender as técnicas e estratégias através de estudos e tornar-se um profissional tão bom quanto os melhores dos tradutores profissionais no mercado Baker (1992). Para desenvolver habilidades tradutórias eficientes, apropriadas e garantir trabalhos de tradução de qualidade, o tradutor precisa primeiro aprender as técnicas e estratégias de tradução. O profissional pode se tornar um mestre na arte de traduzir. Baker (1992) prepondera que as escolhas das estratégias contribui para a tradução desejada. No entanto, sempre haverá pontos positivos e negativos nas traduções. “Every translation has points of weakness and every translation is open to improvement” (BAKER, 1992, p.19).
Na obra de Venuti (2004), Jean Paul Vinay e Jean Darbelnet discutem sobre estratégias e métodos usados no processo de tradução. Para eles, vários métodos e procedimentos são usados, mas não são todos tão importantes, pois, podem ser condensados em poucos procedimentos indispensáveis no processo de tradução. No geral, esses procedimentos devem ser seguidos por tradutores que se utilizam de dois métodos comuns: a tradução direta e a tradução oblíqua. A Tradução direta trata-se de uma tradução literal. Já na tradução oblíqua, o processo é diferente. A língua-alvo apresenta lacunas que o tradutor precisa preencher e tentar garantir que o leitor tenha a mesma impressão ou sinta o mesmo efeito causado pelo texto original, pois a tradução direta não dá conta dessa transformação. Por causa das diferenças estruturais e metalinguística, alguns efeitos estilísticos não podem ser transpostos de uma língua para outra, sem afetar a ordem sintática ou o léxico da língua-alvo. Nesse sentido, os autores afirmam que é preciso usar métodos de tradução mais complexos, os métodos chamados oblíquos.
Os especialistas observaram que, muitas das lacunas metalinguísticas são preenchidas pelo tradutor através de empréstimos linguísticos. Eles salientam o seguinte: o problema é que esses empréstimos muitas vezes são termos de outras línguas estrangeiras. Acréscimos feitos pelo tradutor podem causar o melhor efeito pretendido na língua-alvo ou não. Na visão de Jean Paul Vinay e Jean Darbelnet, entretanto, essas estratégias ou inserções de novos léxicos na língua-alvo são muito pessoais e devem ser evitados. Apesar de existirem inúmeras estratégias, a tradução direta (literal) se mostra bastante eficiente quando a tradução é feita entre línguas cujas origens são as mesmas (como por exemplo, as línguas latinas) pois compartilham as mesmas culturas. Mesmo assim surgem as limitações e as necessidades da utilização do método obliquo, pois no processo de tradução, constantemente aparecem lacunas entre as línguas. É nosso dever como tradutor resolver esses problemas. Como podemos fazer isso? Às vezes, o único jeito é acrescentar e adaptar na língua alvo as novas palavras. Muitas vezes, percebemos que nem mesmo os dicionários são eficientes ou totalmente confiáveis no processo de tradução de palavras, de uma língua para outra. Portanto, o tradutor precisa está sempre pronto para solucionar esses tipos de problemas. A partir de um texto original, algumas traduções são feitas através de métodos estilísticos diferentes para formar construções linguísticas equivalentes na língua-alvo. Quando alguém se machuca, ele ou ela vai expressar sua dor através de um som. Esse mesmo som tende a ser diferente em outras línguas. Por exemplo, em português esse som pode ser transcrito como "ai" enquanto em inglês passa a ser "ouch". Outros casos acerca das equivalências são as onomatopeias, sons produzidos por animais. O canto do galo em português (cocorico) tem seu equivalente em inglês (cock-doodle-do) entre outros exemplos. Conhecer as línguas e desenvolver um olhar clinico sobre elas e suas equivalências são estratégias bastantes recomendadas para que o tradutor consiga transpor as mais diversas mensagens. Um outro bom exemplo são os dizeres ou ditados populares. Métodos de tradução equivalentes são muito comuns na tradução de provérbios e expressões idiomáticas.
Contudo, como tudo na vida, é preciso ter bom senso. Segundo Ilari (2013), "Existem na língua expressões que são adequadas para a formação vaga dos fatos que se quer narrar ou descrever, mas que devem ser evitadas quando se pretende uma formulação mais exata." (ILARI, 2013, p.47). Esse autor explica que existem nomes de pessoa, apelidos ou jeitos especiais para se referir a um indivíduo ou a um grupo de pessoas em um diálogo, situação ou em uma cultura especifica. Assim sendo, quando traduzimos, devemos então usar a linguagem que melhor se adequa e melhor se comunica os fatos. Em outras palavras, isso significa transpor uma mensagem da língua fonte a língua alvo respeitando uma série de fatores. Além disso, precisamos adequar e ser fiel ao jeito de falar e de se comunicar de um personagem em uma história, por exemplo, e naturalmente, poder ser capaz de mudar a linguagem em diversos outros contextos, situações etc.
Para Allegro (2009), em um conto literário, nada deve ser tirado ou adicionado, pois tudo é pensado sob medida. Uma subtração ou um acréscimo pode levar o leitor a interpretação diversa. Ela ressalta que omitir ou substituir palavras do texto fonte no texto alvo pode causar uma falta muito grande para o leitor. Na medida do possível, o tradutor deve respeitar as características do texto original, caso contrário, as ideologias presentes no texto fonte podem não ser preservadas no texto alvo. Allegro afirma que nada no conto é aleatório. Para ela, no conto cada elemento textual tem valor de ouro. Podemos dizer, então, que nesse gênero textual nada deve ser desconsiderado, pois todos os elementos exercem funções pré-estabelecidas pelo autor.  Allegro (2009) fala sobre inadequações nos textos traduzidos. Com base em seus estudos, ela apresenta o seguinte trecho: “The next to the Hell is taken by the translator Who intentionally skips words or passages that He does not bother to understand or that might be obscure or obscene to readers (...).” (ALEGRO, 2009, p.11). Em outras palavras, a autora sugere que o tradutor jamais deverá usar eufemismos no texto alvo, se no texto fonte for constituído de palavras chulas, linguagem coloquial, palavrões ou expressões inapropriadas. Muitos tradutores tendem a evitar linguagens desse tipo, mesmo que estejam no texto fonte. Para substitui-las, tradutores geralmente fazem uso de modalidades: omissão, modulação etc. Algumas línguas oferecem mais opção que outras, mas as dificuldades existem. Ao longo de nossas pesquisas pudemos averiguar que a língua portuguesa tem grande flexibilidade com as palavras. Entretanto, essa flexibilidade dificilmente está presente em algumas línguas estrangeiras, como o inglês. Por isso, conhecer as mais diversas estratégias é uma necessidade de todo profissional da tradução. É preciso ler com muita atenção e ter um olhar de raio-x para enxergar no texto o que não pode ser observado através de uma leitura desatenta por parte do tradutor. As estratégias existem e devem ser usadas, no entanto, é preciso saber quais opções se enquadram melhor no tipo texto.
Alguns escritores bilíngues escrevem os provérbios ou expressões da língua de forma semelhante a do texto original, evitando assim a forma equivalente. Para Jean Paul Vinay e Jean Darbelnet, contudo, a responsabilidade em inserir essas construções na língua alvo é do escritor e não do tradutor. Apenas os escritores tem a liberdade de fazer isso. Se essa atitude surgir efeito positivo ou negativo, o credito ou o fracasso será do próprio escritor. Nesse caso, para o tradutor, é aconselhável usar método de tradução tradicional, pois as acusações de uso de galicismo, anglicismo, germanismos, hispanismo etc. sempre estarão presentes quando um tradutor tenta introduzir um novo léxico. O Tradutor, portanto, deve tomar cuidado com as adaptações. Por sua vez, essa modalidade é mais conhecida e usada nas traduções simultâneas. As adaptações devem ser usadas com cautela, pois, podem provocar perda das ideias, além de afetar a estrutura sintática, e pode comprometer toda a lógica da mensagem do texto original.
“The history of translation theory can in fact be imagined as a set of changing relationships between the relative autonomy of the translated text, or the translator’s actions, and two other concepts: equivalence and function. Equivalence has been understood as “accuracy,” “adequacy,” “correctness,” “correspondence,” “fidelity,” or “identity”; it is a variable notion of how the translation is connected to the foreign text. Function has been understood as the potentiality of the translated text to release diverse effects, beginning with the communication of information and the production of a response comparable to the one produced by the foreign text in its own culture. Yet the effects of translation are also social, and they have been harnessed to cultural, economic, and political agendas: evangelical programs, commercial ventures, and colonial projects, as well as the development of languages, national literatures, and avant-garde literary movements. Function is a variable notion of how the translated text is connected to the receiving language and culture”. (VENUTI, 2004, p.5).
Jean Paul Vinay e Jean Darbelnet (em Venuti, 2004) finalizam suas contribuições e alertam que no campo da tradução, muitos tradutores criam palavras novas através dos empréstimos linguísticos, por exemplo, palavras de outras línguas são inseridas na língua alvo. Às vezes, porém, tradutores criam ou inventam suas próprias palavras e as inserem na língua-alvo. E é dessa maneira, entre outras formas de empréstimos linguísticos, que novos léxicos surgem nas línguas. Todavia, essa prática deve ser cuidadosamente evitada pelos profissionais de tradução. Algumas pessoas cuja formação se deu em ambientes multilíngues se arriscam a atuar profissionalmente na área da tradução. Alguns conseguem exercer a função de tradutor com eficácia, porém, muitos outros apresentam algumas limitações e lacunas, tais como, conhecimentos limitados das línguas e das estratégias e métodos de tradução. Essas lacunas só poderão ser sanadas através da busca pelo conhecimentos das técnicas e estratégias para desenvolver a competência tradutória que podem ser encontrados nos cursos de tradução. “(...) o conhecimento da língua e o uso de um dicionário não são requisitos únicos da tarefa do tradutor. Este deve contar com outro tipo de habilidade tais como saber buscar informação em outras fontes além do dicionário.” (PAGANO, 2009, p.18). Para Pagano, um tradutor sem conhecimento técnico pode fazer traduções, porém, o trabalho pode apresentar problemas que podem ser evitados ou resolvidos. Para tanto, é preciso se especializar em cursos específicos de tradução, se tornar um tradutor qualificado para o exercício dessa profissão.
Um tradutor que se limita unicamente ao conhecimento da língua e a mera ajuda de recursos básicos, como um dicionário, será possivelmente um profissional cujos trabalhos apresentarão defeitos, pois suas traduções se resumirão a uma soma de palavras traduzidas com o intuito de traduzir uma mensagem. Em contra partida, o tradutor conhecedor do terreno da tradução deve ter em mente a mensagem e qual deve ser a melhor maneira de traduzi-la, pois ao contrário das palavras isoladas, a mensagem deve ser a prioridade, até mesmo acréscimos ou possíveis omissões deverão ser usados pelo tradutor para comunicar o texto ao leitor. Além disso, a língua nos oferece léxicos e seus sinônimos para melhor atender as necessidades do público-alvo. Mittmann (2003) discorre sobre diferentes teorias da tradução. Ela fala da concepção tradicional sob a ótica de três renomados autores: Nida (1964) Theodor (1983) e Ronai (1981). Essa concepção “se baseia na possibilidade de descobrir/decodificar o pensamento do autor e recodifica-lo em outra língua” (MITTMANN, 2003, p.22). A segunda concepção, a Perspectiva Contestadora, recebe esse nome exatamente por contestar a primeira, a Concepção Tradicional. Essa concepção é analisada sob o olhar de Aubert (1989), Arrojo (1993), Venuti (1992) e Hermans (1998). Na visão desses estudiosos, o tradutor é visto como sendo um instrumento de transporte da mensagem de uma língua para a outra; enquanto a interpretação particular do texto deve ser determinada por fatores externos.
Mittmann (2003) conclui que, diferentemente da concepção tradicional da tradução, na perspectiva contestadora, o tradutor não intervém na condução do sentido da mensagem, pois o leitor se encarregará dessa função, tendo como fatores principais, o discurso e suas condições de produção. Na concepção tradicional os “autores tomam o texto como contexto, capaz de dar sentido à palavra, e a exterioridade só é citada quando os autores lamentam a intromissão do tradutor” (MITTMANN, 2003, p.36). Na perspectiva contestadora, “a exterioridade é fundamental ao tradutor e as condições a que este está exposto”, isto é, o texto, as decisões do tradutor no processo de tradução são determinados por fatores externos de cunho social, ideológico, histórico etc. Neste caso, a tradução e a transposição da mensagem de uma língua para outra ocorrem a partir da interpretação do tradutor, que por sua vez pode ser considerado o coautor, pois seu trabalho torna-se um produto, uma recriação de um texto em um novo contexto de modo a fazer sentido para o leitor receptor do texto traduzido. O trabalho do tradutor e o ato de traduzir com clareza, adequação, tradução apropriada, são muito importantes, ou seja, sem desvios e sem problemas de entendimento. Para entendermos melhor, vejamos a seguir algumas histórias. Large (1983) relata um caso ocorrido em novembro de 1970. Sete americanos comeram cogumelos venenosos e após cinco dias dois deles morreram e não havia informação a respeito de medicamento ou tratamento que pudesse salvar as outras vítimas. Por sorte, o caso foi reportado em uma emissora de rádio. Um químico que ouvia as notícias lembrou que em 1963, um médico tcheco tinha escrito um documento sobre um método de tratamento contra envenenamento por amanita tioacido (espécie de cogumelo venenoso). O tratamento foi testado em um dos pacientes cujo fígado já estava bem danificado. A tentativa foi um sucesso e o paciente já estava apto a voltar ao trabalho dois meses depois.
O fato é, esse tratamento com tiacido já era conhecido desde a década de 50 e artigos médicos foram publicados em várias línguas europeias anos depois, porém em inglês o tratamento tornou-se conhecido apenas em 1972. Entretanto, apesar da existência de artigos escritos sobre esse tratamento, médicos americanos não tinham conhecimento disso e nem de nenhum tipo de tratamento ou documento traduzido para a língua inglesa, no acervo medico local. Um caso diferente ocorreu também nas mesma época. Um grupo de cientistas americanos trabalharam por cinco anos para solucionar um problema recorrente que existia no sistema da rede elétrica do país. Em 1955, encontraram um artigo escrito em russo que fornecia as respostas para aqueles problemas. O artigo havia sido publicado cinco anos antes nos Estados Unidos, mas em russo e não em inglês. Na época, o grupo trabalhava em ambiente multilíngue. Dez integrantes do grupo falavam e dominavam 7 línguas estrangeiras, entre elas, o russo. Large (1983) explica que apesar de terem conhecimento das línguas, no processo de tradução ocorreram erros que impediam a possível solução para os problemas que o grupo tentava solucionar. Inevitavelmente, tiveram que recorrer a uma legião de tradutores profissionais que foram contratados apenas para traduzir aquele artigo que continha as respostas para resolver aqueles problemas, no sistema da rede elétrica dos americanos, que pareciam não ter solução.
Presenciamos até então dois exemplos que enfatizam a importância da tradução entre línguas e povos. O primeiro, o químico que salvou as vítimas do envenenamento pelo cogumelo amanita e, o segundo, o grupo de cientistas americanos que falhou por mais de cinco anos tentando resolver o problema na rede elétrica. No primeiro caso, o químico é conhecedor dos idiomas tcheco e inglês, no segundo caso, existia um grupo de indivíduos multilíngues, porém não eram tradutores profissionais. O trabalho de traduzir o tratamento, pelo químico, foi um sucesso. Porém, no segundo caso, apesar do grupo dominar e conhecer bem as línguas, isso não foi o suficiente para traduzir efetivamente, com clareza e sucesso, o artigo em russo. Large (1983) pondera que “Such examples do provide dramatic evidence of the foreign-language barrier in operation but do not reveal its true dimension”. (LARGE, 1983, p.4). Com base nos apontamentos de Large, podemos dizer que de fato a língua fonte pode representar um empecilho para o tradutor, principalmente se esse não for treinado no que diz respeito a técnicas e estratégias da tradução e outras qualificações necessárias para a prática tradutória. Dessa maneira, podemos afirmar que, definitivamente, o domínio e conhecimento de uma língua estrangeira podem não ser o suficiente para um falante daquele idioma ser capaz de traduzir com sucesso um determinado texto, de uma língua fonte para uma língua alvo. Pois, até mesmo falantes multilíngues cujas capacidades linguísticas e cultural se mostram mais elevadas que as dos falantes monolíngues, podem se equivocar quanto a transposição de mensagens, informações entre línguas das quais fazem uso, como sugere Large (1983).
Como vimos, a função do tradutor e a importância dos seus conhecimentos e qualificações na prática tradutória são de suma importância para o mundo, pois inúmeras nações podem tomar conhecimento sobre diversos campos e segmentos da sociedade global, no entanto, mais importante ainda é ter acesso a informações bem traduzidas, sem desvios de sentido ou erros tradutórios. Isso pode gerar consequências indesejadas. Como no exemplo do químico, uma tradução clara e apropriada pode salvar vidas ou evitar que grandes corporações tenham prejuízos financeiros, como no caso dos cientistas americanos, suas traduções duvidosas devem ter causado consequências indesejadas para o país e para as empresas responsáveis pelo serviço.
Acreditamos que um texto em uma língua estrangeira, seja ele escrito ou falado, exige de nós tradutores a competência e a constante busca pelo desconhecido nas diferentes áreas do conhecimento, afim de encontrar respostas e soluções para os problemas, além disso, devemos sempre aprender novos métodos e estratégias tradutórios através de cursos e treinamentos para desenvolvimento profissional. Pois, não importa se o tradutor é novato ou experiente, com muita frequência nos deparamos com textos complexos os quais nos obrigam a buscar meios e a usar as mais diversas estratégias para encontrar com precisão a tradução adequada e isso sempre fará parte da nossa rotina e da nossa profissão. Hatim e Mason (1997) preponderam que trata-se de um exercício cauteloso que oscila entre texto fonte e texto alvo para garantir a comunicação entre as duas barreiras que as línguas possuem: as barreiras linguística e cultural. Hatim (1997) recomenda o seguinte: “One way of getting to the core of what takes place and of unravelling communicative game, is to chart the routes which the major players travel along and to see the entire exercise in terms of a set of parameters within which textual activities are carried out.” (HATIM, 1997, p.14). Ainda sob a ótica dos autores, a natureza comunicativa do trabalho do tradutor não se limita a observações baseadas em evidencias empíricas apenas. É preciso recorrer a procedimentos heurísticos, ou seja, métodos e estratégias apropriadas para solucionar os mais diversos problemas e desafios que sempre surgem.
Para Gentile (1996) por causa da diversidade de línguas no mundo, criou-se a necessidade de comunicação entre falantes de línguas diferentes. Neste caso, o autor destaca a função do tradutor interprete cuja a profissão é uma das mais antigas atividades humanas. Gentile e seus colaboradores enfatizam que indivíduos envolvidos que pertencem a grupos sociais multilíngues são capazes de fazer o trabalho de interprete, por isso a presença de um tradutor-interprete profissional é descartada. “(...) individuals growing up in a close proximity to other language groups often develop the capacity to speak a number of languages.”  (GENTILE, 1996, p.5). Os autores acrescentam que alguns notáveis exemplos que dispensam interpretes são os grupos Aborígines australianos e outros grupos antigos nos quais a presença de interprete profissional é rara. Contudo, a função do tradutor interprete sempre teve seu lugar na história. Os autores também discorrem sobre o Tratado de Versalhes em 1918\19 e sugerem esse evento histórico como a marca do começo e reconhecimento do profissional tradutor-interprete e da interpretação internacional moderna. Nesse cenário, líderes de duas potencias mundiais, Grã-Bretanha e Estados Unidos, que participaram dessa conferencia não falavam francês, portanto, além dessas autoridades muitos outros necessitavam do tradutor-interprete. Na época, as forças armadas europeias eram quem lidavam com esses serviços de interprete, pois já faziam esse serviço com bastante autonomia para se comunicarem com os aliados e inimigos de guerra. Muitos oficiais desenvolveram habilidades e grande domínio em vários idiomas. Os oficiais e suas habilidades com as línguas serviam e foram estendidas para atender outras necessidades: as grandes reuniões e encontros internacionais oficiais.
Após a primeira guerra mundial, muitos oficiais das forças armadas europeias tornaram-se tradutores e interpretes profissionais de alto nível e ganharam reconhecimentos internacionais por isso. Contudo, antes dessas conquistas tiveram de lapidar suas técnicas e estratégias para então vencer as barreiras e dificuldades encontradas na pratica tradutória profissional. Esses foram grandes avanços e inovações que lançaram o profissional tradutor e interprete no cenário internacional como também seu reconhecimento profissional. Pagano (2009) argumenta sobre técnicas de tradução e possíveis conceitos de unidades de tradução, textos e suas partes. “A Análise do Discurso desenvolve, a partir dos conceitos de coesão e coerência, uma possibilidade de se abordar o texto com uma intricada rede de relaçoes interdependentes. Por seu lado, a Teoria da Funcionalidade vê a função de uma tradução como sendo seu objeto primordial e, com isso, defende que o tradutor abandone a literalidade lexical e sintática em prol de uma contextualização mais adequada da tradução na língua e cultura de chegada.”   (PAGANO, 2009, p.30). Essa visão faz parecer simples na tomada de decisão por parte do tradutor, no entanto, a autora acrescenta que, nenhuma dessas posições bastante radicais atenderão as necessidades do tradutor, pois, existem conceitos e regras as quais regem a prática tradutória. Existem a tradução livre e a tradução fiel, por isso, a escolha representa um grande desafio para o tradutor. Dependendo do texto e suas partes, as unidades de tradução requerem do tradutor uma ou outra escolha de estratégia, quando não, as duas. Em um texto podemos encontrar palavras, frases, orações, períodos e as famosas expressões idiomáticas. Uma unidade de tradução pode ser todo o texto, uma frase e até mesmo uma palavra isolada, ou seja, definir uma unidade de tradução torna-se relativo e, segundo Pagano, não existe uma definição ideal para essa nomenclatura, no entanto, o nível de complexidade da palavra pode ser suficiente para considerá-la e classificá-la como sendo uma unidade de tradução.  Por exemplo, uma palavra em português dentro de um texto escrito em inglês pode ser considerada uma unidade de tradução, pois tal palavra pertence a uma língua diferente, logo, requer olhar especial por parte do tradutor, uma vez que o nível de complexidade para se traduzir a palavra, isoladamente, não é o mesmo que o das outras palavras no mesmo texto.
Pagano afirma que tradutores precisam ter atenção e consciência das nuanças e sutilezas em relação a vários gêneros, nas duas línguas. Encontrar e definir ou que é ou não unidade de tradução   deve ser uma decisão exclusiva do tradutor e isso depende de quanto o profissional conhece do assunto que está sendo traduzido. Nessa ótica, o que pode ser considerado uma unidade de tradução para um não será para outro, pois o nível de complexidade de uma palavra, frase, expressão ou um determinado texto será diferente quando expostos a tradutores cujas bagagem de conhecimento linguístico e cultural também tende a ser diferente e variado. Pagano (2009) assegura que, independentemente disso, dividir o texto em partes (unidades de tradução) “é o ponto de partida para uma boa tradução”. Portanto, esse pode ser uma boa estratégia a ser usada, sobretudo, para aqueles profissionais com pouca experiência na prática tradutória. Mittmann (2003) ressalta que, ao analisarmos um texto, devemos considerar as condições sob a qual o discurso foi produzido para depois chegarmos ao sentido constituído no discurso pelo sujeito que o produziu. A autora, sob a ótica da análise do discurso, diz que o sujeito e o sentido se constituem juntos no discurso, porém este não nasce do sujeito que o produziu. O discurso é ideológico e sempre remete a outros discursos, sejam eles produzidos antes ou depois daquele produzido pelo sujeito. “Por isso, o discurso nunca pode ser analisado de forma isolada, deve ser sempre remetido às relações de sentido nas quais é produzido. As relações de sentido se dão com esses outros discursos - anteriores, posteriores possíveis”. (MITTMANN, 2003, p.44).
Pagano (2009) sugere que o tradutor use, como ponto de partida para uma boa tradução, a estratégia de dividir o texto em partes isoladas, ou seja, em unidades de tradução. Entretanto, não se pode perder de vista o discurso, o qual segundo Mittmann, não deve ser analisado como uma unidade de tradução isolada, exatamente por causa de sua relação com outros discursos e ideologias. Sendo assim, podemos dizer que o tradutor lida com um quebra-cabeça (texto-discurso-contexto) o qual pode ser montado e desmontado até encontrar o lugar ideal para cada peça (palavra-sentido-adequação), seguindo regras e princípios de modo que o jogo (texto) não seja desvinculado do todo (texto-contexto-sentido). Ao ser montado ou desmontado, o jogo não pode perder de vista a sua forma nem a essência, da mesma forma que o discurso não pode perder sua materialidade linguística e histórica. “A história - isto é, o fator ideológico - não é algo que está lá fora, em segundo plano, exercendo uma determinação sobre o discurso, mas é constitutiva do discurso e intervém em sua textualidade. E as sistemacidades linguísticas são a base material sobre a qual se produz o discurso. O discurso, portanto, é o lugar onde se dá a relação entre a língua e a história”.   (MITTMANN, 2003, p.45). O discurso, pois, deve ser analisado pelo tradutor através do texto que pode ser visto como uma unidade de tradução sobre o qual o tradutor deve percorrer até encontrar o sentido desejado, tendo em mente os diferentes aspectos e condições de produção dos discursos e suas relações com outros textos ou outros discursos. Vemos a ideia de Pagano (2009), de isolar os recursos textuais em unidades isoladas de tradução, como sendo uma ótima estratégia de começar a tradução de um texto. Contudo, em seguida todas as unidades devem ser agrupadas e organizadas para que as devidas inter-relações sejam feitas de modo a garantir que cada elemento e seus sentidos possam ser transpostos de modo eficaz e apropriados para a língua de chegada.
Já no que diz respeito a tradução de texto cientifico do idioma inglês para outras línguas, o número de tradução desse tipo de texto é muito grande. O idioma inglês é considerado uma das fontes mais consultadas pela comunidade cientifica mundial, consequentemente, acreditamos que muitos trabalhos são traduzidos e arquivados para futuras consultas nas instituições locais. De acordo com os apontamentos de Large (1983), entre as publicações em língua estrangeira em escala global, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos se destacam. Para o autor, isso ocorre porque existem barreiras linguísticas entre as comunidades cientificas, as quais não tem conhecimento de outras línguas, como, por exemplo, o alemão, francês, japonês, russo entre outras línguas nas quais são publicado grande número de trabalhos e publicações cientificas. Contudo, uma vez que existe as barreiras linguísticas, tudo se torna inacessível aos olhos do mundo. “Scientific research is an international activity which should accept no boundaries, political or linguistic. The product of research - information - must be carried to those who can best use it regardless of whether this means to laboratory next door or to the far side of the world.” (LARGE, 1993, p.34). As barreiras linguísticas de fato existem, e isso acarreta perda de adquirir informações importantes e valiosos conhecimentos para a comunidade global. Além disso de tudo, muitos conhecimentos produzidos em inglês também se perde ou são restritos aos indivíduos que não dominam o idioma. Se perde pois o número de publicações em inglês se torna absurdamente grande. Muito se perde pelo fato de até mesmo aqueles que sabem o idioma inglês não serão capazes de ter acesso a tantas informações devido à grande quantidade de documentos científicos publicados. Devido a essa grande produtividade, muitos documentos deixam de ser traduzidos em escala global.
Para aumentar as chances desses documentos serem traduzidos para o maior número de línguas possíveis, e assim diminuir as barreiras linguísticas, mais tradutores são necessários, pois as comunidades cientificas carecem desse suporte. Large (1983) enfatiza que a língua inglesa representa uma grande barreira linguística, porém existem outros impedimentos para o acesso aos acervos científicos publicados: as publicações inadequadas. Essas publicações e os problemas sistêmicos nas bibliotecas, comunicação precária nas redes de acesso e barreiras políticas. Tudo isso impede o acesso, além de representar um grande obstáculo para a comunidade cientifica que se esforça para ter acesso a documentos de diferentes fontes e segmentos de pesquisas em língua estrangeira. As inadequações nas publicações e o fator psicológico dos indivíduos em geral que inibe a busca por informações em língua estrangeira são evidencias de que tradutores de um lado, precisam de qualificações e conhecimentos de métodos e estratégias de tradução. Do outro lado, estão os indivíduos que necessitam desse trabalho sem inadequações, trabalhos de qualidade, ou seja, boas traduções e bons tradutores profissionais no mercado. O trabalho do tradutor é fundamental para engajar e conectar as publicações em língua estrangeira a sociedade global. Hatim (1997) sugere que, na medida em os textos são traduzidos, as barreiras linguística e cultural são quebradas. As barreiras entre as línguas de fato existem, porém, através da pratica tradutória é possível estabelecer interação entre leitor, texto e contexto.
Hatim (1997) discute sobre a questão da intertextualidade. “Together, these regulate the way texts come to what they are intended to do. As part of this process, intertextuality is a semiotic parameter exploited by text users, which draws on the social-cultural significance a given ocurrence might carry, as well as on the recognizable social-textual practices”. (HATIM, 1997, p.19). Além dos elementos a serem considerado, o texto, o discurso e o gênero textual, existem as intenções do autor. Uma vez que o contexto é ignorado pelo leitor ou tradutor, a intencionalidade se perde, ou neutraliza-se seu potencial intertextual, uma vez que a intencionalidade pode ser vista como sugere Hatim (1997), altamente abstrato e relativamente concreto. Os autores explicam que; abstrato porque a intencionalidade envolve a atitude de quem escreve o texto a ser intertextualmente ligado com as convenções sócio textuais reconhecidas pelos leitores; concreto porque trata-se de uma prática sócio textual de uma comunidade de leitores e escritores que se mostram primeiramente capazes de agirem e interagirem em torno de toda a gama de significados.  O escritor não tem como objetivo apenas indicar relevantes valores sociais pretendidos no texto. Ele pretende também definir o foco do texto como uma exposição totalmente deslocada. Hatim ressalta que, levando-se em consideração esses objetivos pretendidos, os tradutores são (considerados uma categoria especial) receptores e produtores de texto cuja pretensão é transportar para o leitor-alvo o que já foi transmitido e comunicado em diferentes graus de expliciticidade, em um dando texto fonte. Dessa maneira, podemos concluir que um dado texto produzido em uma língua fonte é transcorrido em diferentes níveis; primeiro sob o padrões textuais seguidos de padrões intertextuais etc.
Como estratégia de tradução, o tradutor precisa se ater aos elementos de coesão e coerência (nível sintático) depois o texto deve ser analisado em nível intertextual onde os elementos semânticos são fatores principais e essenciais na construção de sentido no texto. Em seguida, em nível pragmático, no qual devemos encontrar as intenções do autor, no texto, levando-se em conta elementos que invocam os diferentes conceitos culturais, entre os quais o autor foi engajado, e outros critérios contextuais. Os padrões de textualidades e os domínios de contextos com os quais estão relacionados são primordiais na prática tradutória. Acreditamos que isso capacitará o tradutor, pois ele é o veículo que transporta e promove as ideias ou ideais entre as línguas. Esse nível de análise e compreensão da língua e a noção de intencionalidade ativa na mente do tradutor contempla o que Hatim (1997) chama de semiótica social. Conhecer os métodos e estratégias de tradução para se chegar na tradução mais adequada requer muito treinamento e bastante tempo de estudo.  Através desse processo e comprometimento, o tradutor é lapidado a cada dia, a cada trabalho produzido, o profissional ganha influencia e reconhecimento por seu trabalho. Gentile (1996) e seus colaboradores discorrem sobre como o tradutor-interprete ganha status. Os autores afirmam que o trabalho do tradutor-interprete pode ser feito por qualquer indivíduo que dominam as duas línguas envolvidas, como é o caso de indivíduos multilíngues, contudo, apesar de serem capazes de traduzir e interpretar informações de maneira bastante funcional, não tem conhecimento técnico e as mesmas competências que possuem os profissionais.  São essas diferenças que refletem diretamente nos trabalhos feitos pelas duas categorias, e, os indivíduos dos dois grupos geralmente são avaliados pela sociedade acadêmica.
Mona Baker (2001) também contribui com algumas informações sobre o tradutor e o interprete no passado. Por exemplo, nas grandes expedições nos períodos coloniais e de exploração do mundo, tanto o tradutor quanto interpretes eram laçados pelos colonizadores, pois não havia profissionais para o serviço. Jacques Cartier no Canadá e Cristovam Colombo na américa do sul capturavam índios e os treinavam para servirem de tradutor-interpretes. Os autores explicam que no passado, principalmente, os indivíduos multilíngues eram obrigados a ajudar os indivíduos monolíngues que não desenvolveram habilidades linguísticas nos idiomas dominantes em países onde viviam. Os indivíduos multilíngues responsáveis por ajudar eram adultos, familiares, amigos e também crianças.  No passado, esses indivíduos eram quem resolviam e quebravam as barreiras entre as línguas. Isso era uma prática muito comum, apesar de cometerem muitos erros tradutórios, pois não tinham treinamentos sobre técnicas e estratégias como hoje em dia existem. Segundo estudiosos, no passado já existiam tradutor-interpretes altamente qualificados, porém, eram poucos e viviam confinados nas instituições. “Such bilingual help is often the antithesis of interpreting. While in some situations it may allow some understanding between the parties, the boarder impact upon roles and status can be devastating. Moreover, uncontrolled use helpers can lead to serious miscommunication or worse: children been used as interpreters in some crucial settings is clearly inapropriated, cruel and even dangerous. (GENTILE, 1996, p.14). Ao longo da história, aos poucos esse cenário foi reconhecido como uma quebra de padrões éticos de ambas as partes. O contratante e o contratado, o interprete e a instituição que forneciam os serviços para os falantes de línguas de menor prestigio. Gentile comenta que os erros de tradução e interpretações duvidosas pelos indivíduos bilíngues, apesar de terem o domínio das línguas, era um trabalho monolíngue em uma segunda língua, ou seja, traduções problemáticas.
Vemos nesses apontamentos que, há uma contradição de conceitos acerca da tradução. Como que o ato de ajudar o outro a entender não é visto como um ato de interpretação e tradução? Bom, segundo Gentile, os trabalhos do indivíduos bilíngues não envolvia a transferência da mensagem de um indivíduo para o outro. O indivíduo bilíngue, neste caso, funciona como um guia para “ajudar” a entender a mensagem. Espera-se que o tradutor-interprete transfira as informações, faça resumos da mensagem e elimine as dificuldades que possam estar presente no texto. Essa competência é adquirida através de treinamentos, uso de estratégias desenvolvidas na pratica e nos cursos de tradução. De maneira equivocada, porém, muitos acreditam que indivíduos bilíngues sejam capazes de exercer efetivamente a função de um tradutor profissional, sem cursos específicos para desenvolver habilidades e métodos tradutórios. Os indivíduos bilíngues são vistos como advogados bilíngues que defendem os interesses das partes através de um processo denominado interpretação de ligação (Liaison Interpreting). “This historical setting has produced many understandable but unnecessary obstacles in the way of accepting liaison interpreting as a distinct and appropriate professional activity.” (GENTILE, 1996, p.16). Até os dias atuais, as duas profissões existem, o “advogado bilíngue” e o tradutor-interprete profissional; porém há grandes diferenças entre os indivíduos que falam duas ou mais línguas e o tradutor-interprete profissional. Este último, como sugere o autor, é bem mais qualificado e capaz de desempenhar com sucesso seu trabalho em instituições, conferencias ou em ambientes nos quais as pessoas não compartilham da mesma língua.
As qualificações exigidas para um profissional, neste caso um tradutor-interprete, não são o suficiente para amparar o profissional, de forma holística. Como afirma Pagano (2009), “Mesmo contando com uma sólida formação escolar, com cursos de especialização ou com uma permanente atualização de seus conhecimentos em areas diversas, o tradutor não consegue dominar todas as áreas de conhecimento nem os diferentes tipos de demandas do mercado das traduções” (PAGANO, 2009, p.40). Para os autores, a qualificação permanente (conferencias, viagens e trocas de ideias) é fundamental para o exercício dessa profissão, ainda assim, isso não garante que o suporte necessário para encarar os desafios diários que surgem nos mais diferentes textos e áreas do conhecimento com as quais o tradutor lida constantemente. No mercado competitivo, o tradutor acaba aceitando trabalhos sobre as áreas que foge de sua ossada ou seu conhecimento se mostra limitado para aquele assunto. Como estratégia e havendo condições e possibilidades, os profissionais delimita a sua área de atuação e, consequentemente, seleciona os clientes e tipos de serviços (textos) com os quais deseja trabalhar. Acreditamos que essas escolhas ajudam a estabelecer uma relação de clientes, principalmente, as traduções e cumprimento de prazos de entrega dos serviços prestados. Consequentemente, a tendência é existir um confinamento de conhecimento, dependências e necessidades especificas tanto do lado do cliente quanto por parte do tradutor. Na medida em que se cria uma liberdade entre profissional e instituição, a garantia dos serviços para a empresa, e os trabalhos passam a ser feitos com bastante propriedade, autonomia e sucesso pelo tradutor “especialista”. Quando o tradutor se especializa em uma determinada área, ele provavelmente terá menos obstáculos linguísticos. Talvez o que dará um pouco de trabalho será a tradução de nomes próprios, pois, nesse segmento sempre existe a necessidade de descobrir se existem traduções convencionais na língua-alvo, pois, na sua área de conhecimentos, certamente, não encontrará muitas dificuldades.
“Além da busca em dicionários e enciclopédias, o tradutor conta com o recurso de consultar amigos, colegas de trabalho ou estudo e, quando possível, pessoas especializadas na área que podem oferecer subsídios adicionais para resolver os problemas tradutórios.” (PAGANO, 2009, p.46). Independente da especialização, podemos encontrar alguns desafios na nossa própria área de conhecimento específico. Por isso, constantemente precisamos buscar novos conhecimentos, participar de debates, workshop e treinamentos, pois tudo que fazemos ou aprendemos se reinventa ou se renova; consequentemente, precisamos acompanhar o ciclo, as mudanças. Para tanto, é preciso seguir os conselhos dos profissionais mais experientes, pois para lidar com a língua carece ter, acompanhar e seguir seu dinamismo, pois a língua é viva e se renova constantemente. Para muitos indivíduos a língua é vista como algo que materializa o discurso ou que promove a possibilidade do discurso acontecer, porém, a análise do discurso contesta essa visão. Mittmann (2003) discorre sobre três aspectos em relação ao estudo da linguagem: a transparência, a univocidade e a regularidade. “A transparência está ligada a uma concepção de lingua como instrumento, sob a metáfora da roupagem que envolve o pensamento, numa relação termo a termo entre o mundo e a linguagem. A univocidade supõe uma sintonia entre formas e sentido, sem espaço para o equívoco. A regularidade é compatível com o primado de um mundo lógico reduzido, em que impera a homogeneidade, a estabilidade e a uniformidade da língua.” (MITTMANN, 2003, p.46).
Segundo a autora, a análise do discurso ver a língua como sistema cuja historicidade é fator determinante na língua. Dessa forma, a língua pode ser vista de duas maneiras: língua como sistema (normas e coerções) e língua fluida (história e cultura). Na língua fluida podemos considerar o aspecto histórico de construção do discurso, além da língua como sistema puramente linguístico. Desse modo, na prática tradutória, devemos ter em mente essas duas visões de língua para que a qualidade e as adequações estejam presentes na língua-alvo. Um tradutor profissional, como na análise do discurso, precisa ter esse olhar clínico e levar em conta o sujeito, o lugar e as circunstancias na qual o discurso é produzido, as relações de sentidos pretendidos. Neste contexto, existe uma espécie de língua imaginária (língua fluida) histórica que intervém no discurso além da língua sistêmica e de cunho apenas linguístico. A partir desses cuidados e preocupações, é preciso que o texto fonte seja transposto para a língua-alvo com o mínimo de ambiguidade e inadequações para garantir clareza entre as obras, tradução e leitor para estabelecer comunicação entre todas as partes. Dizemos sem ambiguidade e inadequações, pois, segundo a autora, na análise do discurso ninguém tem o domínio total sobre o que diz, escreve ou até mesmo sobre o que ler. Esse domínio é neutro perante as condições de produção. Neste ponto de vista, uma tradução pode ser considerada o resultado da combinação de interpretação da língua enquanto sistema linguístico e da língua imaginária cuja parte principal constituinte é a historicidade que transforma a mensagem em discurso. Sim, isso tudo parece um tanto complexo e os textos tem essa peculiaridade. Alguns são muito complexos, outros são medianos, já outros são ou parecem ser fáceis.
Hatim (1997) afirma que o tradutor pode lidar com vários textos cujos padrões são os mais variados, ou seja, alguns textos são simples e outros são complexos para serem traduzidos. De um lado existem os textos que expõem o máximo de coesão e coerência nos quais a intertextualidade e a intencionalidade são menos intricadas ou complexas. Do outro lado existem os textos cujas coesão e coerência são problemáticas e o tradutor precisa solucionar o problema. O texto simples ou estático requer menos intervenção por parte do tradutor. Já no texto complexo ou dinâmico, o tradutor é desafiado a enxergar a tradução literal como uma opção descartável. Isso significa que o tradutor precisa encontrar e transportar, do texto fonte para o texto alvo, os elementos linguísticos e extralinguísticos que comunicam, por exemplo, ironia ou outras manifestações que por sua vez carecem de aparecer nas traduções. Para tanto, o tradutor precisa munir-se de bagagem intercultural nas duas línguas ou nos pares com os quais trabalham. Na visão de Hatim (1997), muitos traduções de textos dinâmicos são analisadas. Logo, revelam-se grandes discrepâncias   Alguns dos problemas são inevitáveis e podem ser justificados, como por exemplo a tradução de expressões idiomáticas que as vezes não se encaixam nos padrões textuais de coesão da língua fonte.
O tradutor também pode omitir as expressões por possível aversão a algumas estruturas da língua. Enfim, são muitos fatores que influenciam ou motivam o tradutor a excluir da sua tradução alguns termos ou expressões, contudo, o dinamismo sociocultural presentes nos textos complexos, neste caso o texto fonte, precisa ser transposto para o texto alvo, pois acreditamos tratar-se de uma questão de respeito com os autor e seu leitor. Sabemos que as vezes o que motiva o tradutor a omitir algumas expressões são usos de expressos pejorativas, desrespeitosas na cultura de chegada etc. entretanto, mesmo em expressões desse calão, podem carregar de maneira recorrente recursos retóricos importantes que, se omitidos na língua e cultura alvo, podem prejudicar e comprometer a transposição da mensagem pretendida pelo autor. Mais uma vez, vemos a grande necessidade de conhecer outras culturas, nuanças e práticas sócio textuais nas duas línguas. Precisamos então conhecer os textos, seus padrões e nunca perder de vista a estrutura do texto e os seus vários elementos estáticos e dinâmicos. Para Gentile (1996) e seus colaboradores, os fatores culturais operam em três níveis: herança cultural, experiência de vida e status relativo do indivíduo. Em situação de interpretação ou tradução de um texto, o público alvo pertence a níveis culturais diferentes e vivem em ambientes socioculturais distintos como também as diferentes visões de mundo. Os valores, as virtudes e comportamentos são diretamente influenciados por todos fatores sociais que constitui o indivíduo. Essa bagagem cultural ampara o tradutor nos alinhamentos linguísticos e cultural nas duas línguas e culturas envolvidas. Ainda na visão de Gentile (1996), “Cultural knowledge is required for efficient and speedy understanding of the messages being conveyed, and to anticipate any possible sources of misunderstanding in the total exchange.” (GENTILE, 1996, p.20).
Esses apontamentos são direcionados para tradutor interprete, mas pode ser aplicado para qualquer profissional que usa a língua como recurso ou ferramenta de trabalho. O profissional precisa unir os elementos sociolinguísticos e cultural em ambas as línguas, pois são eles que caracterizam e governam os comportamentos em ambas as culturas e que também alertam sobre os riscos de cair nas generalizações simplórias em relação aos indivíduos, ou no caso da tradução, especificamente, generalizações e omissões de partes importantes no texto original que se perdem ao longo do processo tradutório e, consequentemente, tira-se o direito do leitor final de ter acesso a este ou aquele termo que por ventura foi sonegado pelo tradutor. Sobretudo no trabalho do tradutor, toda a gama de conhecimento é de grande valia para que sejam feitas as melhores e mais apropriadas escolhas e métodos de tradução. Ler e consultar textos paralelos nas línguas pares são estratégias altamente recomendadas pelos especialistas da tradução. Pagano (2000) diz, “como forma de se buscar apoio para o processo tradutório, a fim de garantir uma tradução bem sucedida.” (PAGANO, 2000, pp.39-40). Essa estratégia é sugerida quando fazemos uma tradução de um texto que foge de nosso conhecimento. Então, pesquisar e ler textos paralelos sobre o assunto. Uma outra opção pode ser consultar pessoas nativas, colegas mais experientes e especialistas que poderão nos auxiliar com as terminologias ou termos cotidianos que não foram dicionarizados ou que não são facilmente encontrados na web e que pode levar muito tempo para encontrar definições apropriadas. Sem falar dos problemas com os diversos significados das palavras.
Mittmann (2003) afirma que que cada vez que uma palavra, um termo ou “um mesmo signo ou conjunto de signos”, se repete, há uma nova enunciação e isso pode causar mudança de sentido devido as condições impostas pelo enunciado e pelo contexto de sua produção. “Por isso, a repetição, a tradução, a retransmissão de um enunciado podem ou não ter a mesma identidade deste, dependendo das condições de sua produção e dos objetivos.” (MITTMANN, 2003, p.54). Nesse sentido, podemos sugerir que o contexto e as condições de produção do enunciado, a língua e a linguagem se renovam e se atualizam de modo dinâmico. Por esse mesmo motivo, quando as palavras se repete em um texto, não devemos velo como repetição, pois as palavras possuem diferentes níveis de existências dentro do sistema de formação do discurso. Mittmann sugere que o enunciado deve ser visto como um elemento que governa as repetições em formulações. “A formulação é uma sequência linguística capaz de reformular o enunciado. Mas as formulações não são, necessariamente, idênticas umas às outras: podem ser similares, mas também contraditórias, como no caso de duas formulações produzidas em FD diferentes.” (MITTMANN, 2003, p.55). A autora sugere que a relação entre o que se fala e como se fala transcende os limites da FD (formação do discurso) e isso pode ocorrer ao mesmo tempo em formações de discursos distintas. Por isso, o enunciado deve ser visto como um fragmento que pode ser reformulado de diversas maneiras conforme as diferentes formações do discurso e as condições de suas produções. Em seguida, podemos averiguar as possibilidade de significados através das reformulações sofridas pelas formulações produzidas anteriormente.
O conhecimento de um determinado assunto somado ao conhecimento de línguas, mesmo que limitado, ajuda no entendimento do texto e na tentativa de traduzi-lo, entretanto, essa tarefa não é tão simples. Large (1983) observa que pouco ou conhecimento limitado de uma língua pode ser perigoso, sobretudo, para um tradutor. A melhor coisa a se fazer é se preparar através de cursos ou contratar os serviços de profissionais qualificados. “It is all too tempting to guess at a meaning based upon subject rather than language knowledge, and the result can be soaking.” (LARGE, 1983, p.57). O autor relata alguns exemplos que ressalta bem o problema. Alguns termos técnicos em inglês foram traduzidos, por cientistas soviéticos, porém de forma erronia para o idioma russo. Para o autor, muitos especialistas aventuram-se a fazer traduções na maioria das vezes problemáticas, pois não tem conhecimento técnico para fazer tradução, além do conhecimento limitado da língua. Vemos que o ideal seria que o tradutor trabalhe em parceria com os especialistas, pois a função do tradutor é expressar minunciosamente o significado da língua fonte para a língua alvo. Para tanto, consultar especialista nas diferentes áreas do conhecimento pode ser uma estratégia fundamental quando se quer contemplar as exigências e requerimentos por parte dos trabalhos e da prática tradutória.
Pagano (2009) discorre sobre estratégias cognitivas que utilizamos para traduzir e juntamente com nosso conhecimento cultural, de mundo e conhecimento de métodos de tradução constitui uma base necessária para a vida profissional do tradutor que precisa se manter sempre em busca de novos conhecimentos. O que aprendemos fica em nossa memória por mais ou menos tempo. Algumas coisas caem no esquecimento. “Uma vez que nossa capacidade de processar informações registradas na memória e recupera-las em um novo contexto é limitada, o esquecimento é o componente responsável pela maleabilidade do sistema de memória ao permitir que as interligações dentro do sistema sejam refeitas continuamente.” (PAGANO, 2009, p.60). Nesta visão, o esquecimento é um mecanismo constituinte da memória e portanto faz parte do sistema que nos ajuda a lembrar ou recuperar o que sabemos ou aprendemos. Para Pagano, esses são denominados conhecimentos cognitivos que ficam armazenados na memória de curto e de longo prazo. Aqueles conhecimentos instantâneos presentes em nossas mentes ficam na memória de curto prazo. Pagano afirma que essa memória está sempre disponível para o tradutor e nos leva a fazer traduções automáticas, ou seja, sem reflexões conscientes. Isso pode ser perigoso e para evitar os possíveis equívocos é aconselhável usar os dois tipos de memorias: a memória de curto e a de longo prazo. A memória de longo prazo nos permite estabelecer informações e associa-las de forma consciente com informações que foram esquecidas por nosso cérebro. Para Pagano, esse tipo de apoio possibilita a recuperação de informações e conhecimentos que foram esquecidos e eles estão na memória de longo prazo. Como estratégia de tradução, usar os dois tipos de memorias: a de curto prazo e principalmente a de longo prazo pois é ela que nos ajuda a refletir sobre as escolhas tradutórias mais apropriadas.
Para o tradutor que usa apenas a memória de curto prazo, o texto em língua estrangeira representa algo adormecido ou sem dinâmica ou inerte. Contudo, para que essa mensagem seja transporta para a língua alvo, o tradutor deve usar os dois tipos de memória. “Segundo a concepção tradicional de tradução, o tradutor resgata uma mensagem do texto original e a recodifica no texto da tradução. Essa concepção está baseada na imagem de texto como baú capaz de carregar o pensamento do autor”. (MITTMANN, 2003, p.56). Mittmann prepondera que o texto não carrega sentidos, pois o sentido surge a partir de interpretações, portanto ambos os textos, original e tradução, são resultados de reflexões e interpretações influenciadas pelos mais variados discursos, ou seja, na visão da autora, os textos apresentam uma pluralidade de vozes e produzir sentidos a partir das leituras e formar novos discursos no texto traduzido são tarefas e responsabilidade do tradutor. Essa responsabilidade obriga o tradutor a usar os dois tipos de memória sugerida por Pagano (2009) e esquecer o texto como estrutura superficial. Como sugere Mittmann (2003), o texto deve ser encarado como estrutura profunda, ou seja, o tradutor deve estabelecer um elo entre texto e discurso, além de ter um olhar clinico de cunho semântico e pragmático. Vemos isso como uma estratégia fundamental, pois a línguas tem suas histórias de produção do discurso e de constituição de sentidos.
Enxergar um texto apenas em nível sintático pode nos levar a armadilhas da língua, como aponta Hatim (1997).  “Differences in prominence of particular features, procedures and translator focus in different translation tasks cannot and should not be overlooked. But, from the perspective of a view of textuality which holds that the structure and texture of texts is subject to higher-order contextual requirements, the differences have to be seen in the light of the register-based, pragmatic and semiotic features which determine the communicative potential of all utterances”. (HATIM, 1997, p.97). Para Hatim, o registro da língua é uma configuração de características que refletem o modo como os usuários da língua fazem uso da linguagem e suas intenções no ato comunicativo, portanto, para identificarmos a transposição adequada da mensagem devemos recorrer a linguística, a semântica, a pragmática e a semiótica. Quando traduzimos um texto, precisamos encontrar possíveis elementos de cunho retorico os quais sugerem significados que só através da análise do discurso serão desvendados ou capazes de revelar possibilidades a serem traduzidas. Para tanto, o tradutor precisa ter muita sensibilidade linguística. Large (1983) afirma que entre tradutores profissionais, os que possuem mais sensibilidades são tradutores literários e portanto são mais qualificados para a tradução literária. Sem nenhum desmerecimento em relação ao tradutor técnico-cientifico, mas o tradutor literário, de fato tem mais sensibilidade e precisa, pois a sensibiliza permite lidar melhor com as complexidades nos textos. Por outro lado, o tradutor técnico tende a concluir suas traduções mais rapidamente, pois possuem as técnicas e muitos especializam-se em áreas especificas e fazem as traduções quase que automaticamente. 
“The translator’s objective, as well as the subject matter itself, is important in determining the translation  approach, and scientific will continue to pose stylistic problems on the occasions, just as literary works may include passages requiring a more technical approach.” (LARGE, 1983, p.62). Podemos dizer também que, o tradutor literário terá mais sensibilidades para lidar com textos de cunho semântico, pragmático e semiótico. Em contra partida terá mais dificuldades em realizar a tradução em curto espaço de tempo. Large ainda acrescenta que ter o conhecimento técnico e aplicá-lo com eficácia é uma vantagem que o tradutor técnico possui. Em geral, podemos afirmar que os tradutores em geral precisam lidar com muitas complexidades nos textos e carecem ser capazes de recriar o texto traduzido a partir do original. Além disso, as vezes, é preciso mudar ponto de vista linguístico e ético para respeitar a época que a obra foi produzida e seu contexto histórico. Pagano (2009) sugere que usemos a memória de longo prazo para fazer tradução de caráter semântico o que já não é tão simples de se fazer, porém, a tradução pode ficar mais complexa de se fazer quando o trabalho precisa ser feito no nível pragmático. É portanto sugerido que façamos associações e relações das informações através de nossa memória de longo prazo. Esse procedimento é crucial para garantir a apropriação e a qualidade da tradução desejada. Contudo, a autora acrescenta, “Constatamos, assim, que a memória sozinha não nos é suficiente. O trabalho iniciado pela nossa memória pode ser completado com outro tipo de mecanismo cognitivo que utilizamos a todo momento do nosso dia-a-dia, ou seja, nossa capacidade de produzir e processar inferências.” (PAGANO, 2009, p.65).
Diferente do que acontece quando usamos a memória de curto prazo, esse processo de inferência para auxiliar na busca de informações se dá a partir dos raciocínios dedutivo e indutivo. Pagano afirma que essas são as formas mais eficientes utilizadas no processo tradutório. Trata-se de uma estratégia fundamental, um pré-requisito que todo tradutor deve usar. Pode se dizer que fazer isso significa evitar inadequações, desvios ou erros tradutórios.   “O choque entre a tradução idealizada, sob a ilusão da estabilidade, e as traduções efetivas, com as dificuldades reais, leva os teóricos da concepção tradicional ao deslocamento do equívoco da língua para o tradutor. Quer dizer, na perspectiva tradicional nao se admite que o equívoco seja próprio da língua, que haja deslizamento de sentido, heterogeneidade, incompletude. Como consequência, toda falha, todo equivoco, todo deslizamento é considerado, então, como resultado da incompetência do tradutor.” (MITTMANN, 2003, p.96). Muitos defendem a visão tradicional de tradução, mas ainda bem que existem outras teorias que contrariam essa concepção. Estudiosos como Aubert (1998), Venuti (2004), por exemplo, falam das distancias entre mensagens de uma língua para outra, de possíveis interpretações e deslizamentos de significados devido as diferenças entre os sistemas linguísticos. Esses fatores obrigam o tradutor a “errar”, ou melhor, a fazer escolhas apropriadas e adequadas determinadas por fatores ideológicos. Essas escolhas são vistas pela concepção tradicional de tradução como sendo “erros”. Apesar de ser funcional, a concepção tradicional nem sempre dá conta de fornecer recursos linguísticos no processo de produção do discurso na tradução. Neste caso, o tradutor carece de outros meios para auxilia-lo em sua pratica tradutória. Essa prática pode variar de tradutor para tradutor, pois a partir da leitura e interpretação do texto original, a produção do discurso na tradução desejada cada tradutor pode ter um discurso particular. Consequentemente, em algumas traduções encontraram-se cheias de “deslizes de sentidos”, como diz Mittmann (2003).
“A função tradutor é responsável pela tentativa de controlar os sentidos no texto da tradução, de acordo com a interpretação que o tradutor faz do original.” (MITTMANN, 2003, p.106). Solange Mittmann conclui que essa responsabilidade vai além disso. Existe a ilusão de reproduzir o original de forma holística e coerente. Uma ilusão de que o sentido das palavras e frases, em ambas as línguas, são universais. A concepção ou visão de tradução tradicional defende essa ilusão, porém, sabemos que essa concepção perde seu terreno que já foi fértil no passado, porém não dar conta das necessidades do tradutor quanto ao uso e a evolução constante da língua. O tradutor precisar de sua autonomia e liberdade para exercer seu trabalho. Apesar de existir essa “liberdade”, Mittmann (2003) pondera que, “Isso não significa, porém, considerar o tradutor como um indivíduo capaz de produzir os sentidos que quiser, ou dono de seu dizer. É preciso considerar a interpelação que transforma este individuo tradutor em sujeito tradutor, que não está fora do seu discurso, controlando-o, mas se inscreve no discurso como uma posição - sujeito.” (MITTMANN, 2003, p.173). Nessa visão da formação discursiva constitui-se a interpelação e é a partir dela que surge a “ilusão” de saber o que é transposto e como isso deve ser feito no texto traduzido. Podemos afirmar que, apesar de existirem os deslizes de sentido, nesse caso, o tradutor tem o domínio e a técnica de fazê-lo, mas precisa fazer isso a partir de noções claras do interdiscurso que determina sua interpretação do texto original.
Gentile (1996) discorre sobre as qualificações do tradutor-interprete cujas qualificações, entre outas, são conhecimento linguístico e cultural em diferentes línguas para poder desempenhar com maestria sua função. Além desses conhecimentos, o profissional deve conhecer especificamente a cultura dos clientes. Isso o ajudará a conduzir os diálogos e fazer as devidas intervenções. Da mesma maneira esses conhecimentos ajudará o tradutor a evitar possíveis equívocos ou armadilhas advindas da concepção tradicional de tradução. Um certo dia estava observando alguns alunos brincando no pátio de uma escola bilíngue. As crianças brincavam de pega-pega e outras brincavam de esconde-esconde. Entre os alunos haviam alunos brasileiros e americanos. No meio das brincadeiras, dois alunos se machucaram e dirigiram-se ao professor para relatar o ocorrido. Primeiro, o professor pergunta o que aconteceu e como ocorreu o acidente. Uma das crianças brasileiras prontamente responderam em ingles, “We were playing ‘pic-pic’ and they were playing ‘hide-hide’. Um aluno americano se aproximou e completou, “As they ran in the patio, they crashed and bumped their heads. Now they’re just crying.” o aluno americano, residente no Brasil, que nasceu e viveu nos Estados Unidos até seus 9 anos, relatou novamente o que o alunos brasileiro havia falado antes: “they were ‘playing tag’, and the others were playing ‘hide and seek’, then it happened.”
Nos dois discursos, podemos dizer que, no primeiro o aluno brasileiro usa metodo tradicional, pois possivelmente tem a ilusão de existem a universalidade entre as linguas. No segundo caso, o aluno americano cujo conhecimento linguístico-cultural nas duas linguas usou “play tag” e “hide and seek”, ou seja, os termos equivalentes para “pega-pega” e “esconde-esconde” em português brasileiro. Agora perguntamos: qual serão as formas mais adequadas ou apropriadas, já que na visão tradicional de tradução o aluno brasileiro está absolutamente correto? Esses exemplos nos ajudam a refletir sobre a necessidade de adquirirmos experiências, habilidades e competências linguísticas e cultural e conhecimento de mundo de que expressa a mensagem, seja ela escrita ou falada. As convenções sociais, o uso da língua através de metáforas, as expressões etc. são sugestões para o tradutor. Gentile (1996) sugere que, além disso, é preciso conhecer técnicas e dinâmicas de comunicação para melhor desempenhar e reproduzir o funcionamento das línguas. “Distinction between language competence and interpreting competence is the fundamental principal which informs the development of the curriculum - which in turn serves as an instrument of professional socialization. This distinction and the dificulties which arise in its implementation in the curriculum cannot be overemphasized. Interpreting training represents not work on language; just as it is problematic to pursue studies in physics without the knowledge of mathematics, so it is with interpreting and language.” (GENTILE, 1996, p.70). Esses apontamentos são direcionados especificamente para o tradutor-interprete, mas são conceitos que também nos fazem refletir a pergunta: saber ou ter domínio de dois idiomas é o suficiente para que o indivíduo possa exercer a função de tradutor? Acreditamos que, da mesma maneira que um tradutor-interprete precisa de seu conhecimentos próprios para a sua função, o tradutor precisa de treinamento e formação especifica e qualificações para se tornar um tradutor efetivamente competente.
O autor acrescenta que, por mais proficiente que um indivíduo seja em duas línguas, sempre existirão nuanças de cunho linguístico e cultural que fugirão de sua ossada. Por exemplo, as expressões idiomáticas, os regionalismos, os dialetos presentes na língua e nas diferentes classes sociais. Por isso, além do conhecimento da língua, o tradutor carece ser treinado para desempenhar sua função. Dificilmente um usuário comum de uma língua terá a preocupação de buscar conhecer, criteriosamente, as diversidades linguísticas e os diferentes usos da língua. “(...) idealectal meanings have always been located on the periphery of language variation and domains such as geographical or historical variation and language use have always proved somehow more worthy of attention by dialectologists, linguists and, for that matter, translators.” (HATIM, 1997, pp.104-105). Adquirir toda essa bagagem se mostra um grande desafio na vida do tradutor, é preciso muito tempo de estudo e dedicação. Hatim sugere que para ajudar nessa tarefa, o tradutor precisa adquirir conhecimentos semióticos regidos pelas convenções intertextuais. É preciso ver a língua como da perspectiva sociocultural seguido da língua enquanto sistema linguístico para encontrar os significados pretendidos pelo autor. Os valores e as equivalências linguístico pragmáticas precisam ser identificadas e mantidas no trabalho (discurso) do tradutor para estabelecer e assegurar a consistência entre os textos. Para tanto, Hatim fornece a receita para que o tradutor desenvolva um conjunto de habilidades neccessarias: “(...) analysis of communicative language ability identifies three broad categories of knowledge and skills, namely, organizational competence (including grammatical competence and textual competence); pragmatic competence (including illocutionary competence and sociolinguistic competence, this latter including register, dialect etc.); strategic competence (judging relevance, effectiveness and efficiency; forming plans for the achievement of communicative goals).” (HATIM, 1997, p.205). Essa receita nos mostra que a tarefa do tradutor não é tão simples quanto muitos pensam. Trata-se de uma profissão que exige muito e Mona Baker (2001) revela que quando um tradutor começa a efetivamente adquirir as habilidades necessárias, ele ou ela já está no final de sua carreira, dessa forma, o ciclo fica incompleto. Contudo, devemos aprender e recorrer as mais variadas estratégias em nosso trabalho.

Considerações finais
A partir dos vários apontamentos discutidos até então, concluímos que o uso de estratégias e a prática de métodos de tradução são recursos fundamentais para o tradutor. Pagano (2009) fundamenta dois tipos de estratégias: análise macro textual e micro textual. Na primeira são abordados textos em suas dimensões holísticas, ou seja, gêneros e padrões retóricos são as bases e devem ser vistos como unidade de tradução. A segunda estratégia trata o texto que pode ser fragmentado em unidades de tradução menores. Em outras palavras, o texto é analisado nos níveis lexical, gramatical e sintático. Pagano sugere que quando usarmos a estratégia macro textual, devemos ter como foco o gênero, o texto e o contexto, mas sem perder de vista a gramatica e as escolhas lexicais feitas pelo autor. Já na estratégia micro textual, nosso foco deve ser o léxico e a gramatica. Agora, na análise macro textual podemos os elementos coesivos do texto, analisar as coerências e estabelecer as relações do texto no contexto. Na análise micro textual, palavras, colocações, expressões idiomáticas, metáfora, entre outros elementos linguísticos são considerados dimensões menores dentro do texto os quais são tratados, individualmente, como unidades de tradução. “As metáforas do astrônomo com o telescópio e do cientista com o microscópio refletem bem o foco dos dois capítulos: o astrônomo observa o todo, ou o macro, para sentir, compreender e identificar-se com a harmonia do universo; o cientista faz um escrutínio dos detalhes que compõem esse todo, no nível micro, tentando entender o seu papel como partes integrantes deste.” (PAGANO, 2009, p.87).
Essa comparação entre astrônomo e cientista reflete bem a necessidade de usarmos diferentes estratégias e analises que nos auxiliam na pratica tradutória. Muitas palavras e expressões podem ser traduzidas de forma direta ou literal, entretanto, não havendo a possibilidade, o tradutor deve recorrer as equivalências, tomando os devidos cuidados com as polissemias e armadilhas presentes na língua. As duas estratégias, portanto, podem nos auxiliar na análise do texto como um todo e de forma fragmentada. Recomendamos e vemos esses procedimentos como ponto de partida para uma tradução de sucesso. “Translations that are more than transmissions of subject matter come into being when in the course of its survival a work has reached the age of its fame. Contrary, therefore, to the claims of bad translators, such translations do not so much serve the work as owe their existence to it. The life of the originals attains in them to its ever-renewed latest and most abundant flowering”. (VENUTI, 2004, p.17). Para Venuti (2004), as manifestações intencionais ligadas a nossa vida têm como proposito final representar possíveis significados do acontece conosco e as relações entre a vida e as manifestações. Da mesma maneira, a tradução serve para expressar significados de textos em língua estrangeira em uma outra língua e as relações entre os idiomas. Nesse processo, as línguas evoluem e se renovam.  Para o autor, as línguas se alimentam através das intenções de significados das palavras e frases produzidas pelo autor.
“The transfer can never be total, but what reaches this region is that element in a translation which goes beyond transmittal of subject matter. This nucleus is best defined as the element that does not lend itself to translation. Even when all the surface content has been extracted and transmitted, the primary concern of the genuine translator remains elusive. Unlike the words of the original, it is not translatable, because the relationship between content and language is quite different in the original and the translation”. (VENUTI, 2004, p.19). Para Venuti (2004), a tarefa do tradutor não consiste em traduzir as palavras e frases de uma para a outra, mas sim encontrar o efeito pretendido pelo autor e a partir do texto original reproduzi-lo no texto da tradução. Para tanto, é preciso libertar-se do método de tradução literal cujos conceitos são contrários aos métodos de reprodução de sentidos. Nessa concepção tradicional, reproduzir os sentidos e não traduzir as palavras e frases compromete o entendimento do texto traduzido. Venuti (2004) pondera que uma tradução precisa ser clara e que faça sentido para o leitor. Quando o tradutor faz uma tradução literal do texto fonte para um texto alvo, respeitando e mantendo cada palavra e estrutura sintática, isso pode não ser o suficiente para garantir a clareza e fluidez da tradução. Por fim, fizemos várias descobertas e, acreditamos que os nossos principais objetivos em identificar as estratégias de tradução nos diferentes níveis, desde uma estrutura sintática mais simples a uma estrutura semântica mais complexa, foram alcançados. Descobrimos possibilidades e importantes estratégias que devem ser utilizadas na tradução de diferentes textos e deixamos aqui um bom começo para o início de futuras descobertas, sobre o tema aqui abordado.
Referências Bibliográficas
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CAVALLARI, Juliana Santana - Uyeno, Elzira Yoko. Bilinguismo: Subjetivação e identificação nas/pelas línguas maternas e estrangeiras. Coleção: Novas perspectivas em Linguística Aplicada Vol. 9 Capinas, SP: Pontes Editores, 2011.
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VENUTI, Lawrence.The Translation Studies Reader. Routledge, Taylor &Francis Group. London and New York. Taylor & Francis e-Library, 2004.

MORAIS, J. F. S.
Sobre o autor:

Graduação em Letras (Português e Inglês) pela Universidade Ibirapuera de São Paulo (2004). Especialista em Língua Inglesa pelo Centro Universitário Ibero-Americano (2008). Graduação em Pedagogia pela Universidade Nove de Julho (2012). Pós-graduado em Didática e Metodologia do Ensino Superior (2014) e tradução (Inglês e Português) pelo Centro Universitário Anhanguera de São Paulo (2016). Experiência no ensino de línguas desde 2000 e atualmente é professor em escola bilíngue e tradutor freelance.

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