“A Revolução dos Bichos” Orwell, George – Capitulo 1

Análise Estilística da obra “A Revolução dos Bichos”
Orwell, George – Capitulo 1

Literary studies analyze literary works and linguistics, language. Many stylistic aspects are present in Chapter I of the book “Animal Farm”, which differ in the target text of the translation process for the source text. The style is present both in the spoken language as the written language and we can find stylistic aspects in these two types of texts. From literary analysis, you can analyze the presence of style in different genres.
Keywords: Style, translation, literature, linguistics, textual genres, source language, target language.
[Os estudos literários analisam obras literárias e a linguística, a língua. Aspectos estilísticos diversos estão presentes no capitulo I da obra “A Revolução dos Bichos”, os quais se diferem no processo de tradução do texto alvo para o texto fonte. O estilo está presente tanto na língua falada quanto na língua escrita e podemos encontrar aspectos estilísticos nessas duas modalidades. A partir de análises literárias, pode-se se analisar a presença de estilo em diferentes gêneros textuais.
Palavras-chave: Estilo, tradução, literatura, linguística, gêneros textuais língua fonte, língua alvo.]

Os estudos literários e a linguística têm como campos de estudos, a primeira as obras literárias e a segunda a língua e sua evolução nos diferentes contextos históricos. Entretanto as consideramos ciências indissociáveis no campo da tradução. “O estilo está relacionado com as frequências de itens linguísticos num dado contexto e, portanto, com probabilidades contextuais. Para medir o estilo de uma passagem, as frequências dos seus itens linguísticos de níveis diferentes devem-se comparar com os traços correspondentes em outro texto ou conjunto de textos que se considere como uma norma e que tenha uma relação contextual definida com essa passagem.” (ENKVIST, SPENCER & GREGORY, 1964, p.44).

Neste trabalho, mostraremos que acerca do uso de estilo, apenas no capitulo I da obra “A Revolução dos Bichos”, há algumas pequenas diferenças entre o texto original e o texto na língua alvo, nesse caso, o texto original em inglês e traduzido para o idioma português. Em alguns momentos, o tradutor cria figuras de linguagem no texto alvo que nem sempre estão presentes no texto fonte. Mostraremos alguns trechos organizados em pequenas tabelas para nos ajudar a visualizar o que discutiremos sobre as construções sintáticas e estilísticas do autor como também do tradutor.

Sobre estilo, a partir das concepções de Camara Júnior (1998), entre outros autores, discorreremos sobre a língua falada e escrita. Em qual delas será mais fácil perceber o estilo do autor? Já com base na visão de Ilari (2013), como devemos olhar para as figuras de linguagem nos textos literários? Quais os efeitos e o que elas sugerem nos textos? Respostas para essas entre outras questões se encontrarão ao longo deste artigo ou pelo menos tentaremos sugerir alguns conceitos e apontamentos os quais nos ajudarão a chegar próximo de respostas minimamente satisfatórias para a definição de estilo e como justificar sua presença em diferentes gêneros textuais.

Os estudos literários e a linguística têm como campos de estudos, a primeira as obras literárias e a segunda a língua e sua evolução nos diferentes contextos históricos. Entretanto são indissociáveis no campo da tradução. Consideramos um fato a grande necessidade dos estudos literários e a linguística estarem juntos, sobretudo nos procedimentos de tradução de obras literárias, uma vez que a linguística está mais preocupada com a língua propriamente dita. Segundo Enkvist (1994) e seus colaboradores, “Atualmente, e em resultado das demandas da engenharia da comunicação, da tradução automática e da sempre crescente necessidade do ensino eficiente da língua inglesa no mundo todo, os linguistas se dedicaram como nunca antes ao estudo do inglês contemporâneo.”(ENKVIST, SPENCER & GREGORY, 1964, p.11).
Esses autores preponderam que precisa haver colaboração, trabalho conjunto, entre a disciplina e seus métodos particulares que cada área desenvolveu em sua especialidade, por exemplo, o estudo do estilo. Acerca disso, os linguistas podem ajudar o tradutor, em suas produções, através de assistência quanto a historia da língua. A união entre o estudo da literatura, da língua e do processo de tradução, se faz necessária para se manterem conectados com o intuito de fortalecer os laços entre eles.
“Observar o estilo em literatura contra o pano de fundo de toda uma classe de normas que uma língua desenvolve ao favorecer as necessidades da sociedade que a usa, equivale a acrescentar uma perspectiva ao estudo estilístico a partir da qual o exame da língua em literatura não pode deixar de se beneficiar.” (ENKVIST, SPENCER & GREGORY, 1964, p.13).
Estudar a classe de normas da língua e tarefa da linguística. Por isso, acreditamos que o trabalho conjunto entre linguística e os estudos literários no processo de tradução capacita o tradutor para analisar e classificar as diferenças e as adaptações necessárias para garantir o mesmo sentido nos dois textos, os textos fonte e alvo. Na visão dos autores, tentar fazer uma tradução literária sem levar em consideração a historia da língua e sua produção literária, no processo de tradução, o tradutor poderá até mesmo destruir a maravilha da literatura em vez de enriquecê-la. 
Nesse sentido, a linguagem, a obra e o pensamento do autor carecem está em sintonia, pois, como bem se afirma, “Um falante pode dar aos seus pensamentos uma forma objetiva, intelectual, que se coaduna com a realidade tão estritamente quanto possível. Mas amiúde, porém, ele opta por acrescentar vários elementos afetivos que lhe refletem em parte o ego e em parte as forças sociais às quais está submetido.” (ENKVIST, SPENCER & GREGORY, 1964, p.29).
A partir dessa afirmação, podemos dizer que no capitulo I da obra, “A Revolução dos Bichos”, a presença da linguagem (formal e rebuscada, nos dois textos – fonte e alvo) reflete o estilo da linguagem da época que foi publicada e o pensamento do autor através das falas dos personagens. Na tradução, esses elementos estatísticos e linguísticos estão presentes nos dois textos. 
Em relação ao estilo, há algumas pequenas diferenças entre o texto original e o texto na língua alvo, nesse caso, o texto original em inglês e traduzido para o idioma português. Em alguns momentos, o tradutor cria figuras de linguagem que nem sempre estão presentes no texto fonte. Entretanto, existem aproximações claras nos enunciados em ambos os textos. Dessa maneira, com base nos apontamentos desses autores, quando surgem aspectos minimamente distintos na estrutura linguística, podem ser considerados estilos diferentes usados nos textos. Veja o exemplo:
Trecho em inglês:
Trecho em português:
“grazing side by side and never speaking”
“Pastando lado a lado em silêncio”

No processo de tradução, o tradutor cria um paradoxo, pois quando os animais pastam, eles fazem barulho. Logo, não pastam em silencio. Apesar da mudança de estilo, os textos ainda apresentam correspondências. “O estilo está relacionado com as frequências de itens linguísticos num dado contexto e, portanto, com probabilidades contextuais. Para medir o estilo de uma passagem, as frequências dos seus itens linguísticos de níveis diferentes devem-se comparar com os traços correspondentes em outro texto ou conjunto de textos que se considere como uma norma e que tenha uma relação contextual definida com essa passagem.” (ENKVIST, SPENCER & GREGORY, 1964, p.44).
Nessa visão, a mudança de estilo feita pelo tradutor não compromete o entendimento do texto, pois existe uma relação contextual definida a partir dos dois textos. No texto fonte, o escritor deve ser considerado como parte do contexto de sua obra. Por sua vez, tradutor e o processo de tradução também devem ser considerados em seus contextos e épocas nos quais o texto foi traduzido. Portanto, incluir novos elementos estilísticos através de suas decisões pessoais deve ser um direito do tradutor, porém, cabe a ele assumir qualquer responsabilidade referente a seu trabalho.
Nos dois textos (fonte e alvo) é evidente o uso da voz passiva. Essas características ou estilos são muito comuns, geralmente, nos textos em inglês. “O uso da passiva para dar ênfase não é, portanto, estritamente dependente do contexto. Mas mesmo que a escolha entre construções ativas e passivas seja algumas vezes não-estilísticas, em inglês uma alta incidência de construções passivas funciona como um marcador de estilo assaz notável.” (ENKVIST, SPENCER & GREGORY, 1964, p.58).
Esses estudiosos acrescentam que além da incidência da voz passiva, a extensão da sentença ou a sua complexidade podem produzir tendências estatísticas dependentes do contexto para a marcação de estilos. Do mesmo modo, frequências baixas de certos itens linguísticos podem definir o estilo de um dado autor ou escritor. Os elementos com alta previsibilidade podem ter efeitos literários muito fortes, mesmo que eles sejam nulos ou não forneçam tanta informação. Por exemplo, algumas palavras ou enunciados comuns numa determinada obra. Em contra partida, os elementos sugerem estilos determinados pelas probabilidades contextuais diversas. 
Podemos dizer que o estilo é uma qualidade natural da obra. Entretanto, acreditamos que um estilo literário esta sempre interligado com o uso da língua, os padrões sociais e culturais de um dado país. Por exemplo, o uso de aliteração ou de assonância em um texto (poema), dependendo do caso, trará inúmeras interpretações de acordo com o país ou o grupo social para quem o texto foi criado. Para Enkvist (1964) e seus companheiros, o uso de aliteração em um poema não deve ser entendida apenas como repetição de sons. A aliteração sugere complexidade na obra a qual requer conhecimento das transiçõesvocálicas, dos agrupamentos das consoantes entre outros recursos usados para efeito estilístico.
“Também é evidente que uma enunciação precisa das relações entre os padrões de substancia fônicas e os de substancia gráfica não é fácil, particularmente numa língua como o inglês. Não há, entretanto correspondência estrita. Contudo, é claro que a substancia gráfica do inglês apresenta padrões: a ortografia inglesa não é furtuita – para começar, nem todas as combinações possíveis de letras podem ocorrer.” (ENKVIST, SPENCER & GREGORY, 1964, p.86). 
De fato, nesse sentido tudo fica mais complicado, pois o idioma inglês é polissêmico, como também sua fonologia. Como coloca os autores, a escrita do idioma inglês tem seus próprios meios, ou seja, difere quase totalmente da língua falada. Há uma grande divergência entre a escrita e a fala. Acerca dessas modalidades da língua, Camara Júnior (1998) nos aponta alguns aspectos importantes na linguagem escrita. Em sua percepção, a linguagem escrita deve ser mais trabalhada, pois seus elementos ficam onerados com encargo de clareza. Em outras palavras, ele quer dizer que a língua falada se faz mais fácil de ser compreendida se comparada com a língua escrita. Vejamos como ele justifica sua visão. “Ressaltemos antes de tudo, na exposição escrita a ausência daquela nota pessoal que espontaneamente decorre da figura física do expositor, das suas atitudes peculiares e do timbre da sua voz.” (CAMARA JÚNIOR, 1998, p.56). 
Para o autor, na linguagem escrita, exige-se mais do escritor. Existe uma imposição para o escritor dar ênfase na maneira sutil de usar os elementos linguísticos os quais devem estar ligados aos seus sentimentos pessoais. Dessa maneira, cria-se um conjunto de escolhas pessoais de cunho estético que podemos chamar de estilo. Contudo, ele afirma que, o estilo do escritor passa a ser mais evidente através da linguagem escrita do que em sua exposição oral.
Ainda sobre a ótica desse autor, o uso da linguagem, sobretudo da estrutura da frase ou período, existem os períodos simples e curtos de um lado, e do outro os períodos longos e compostos. Os períodos curtos caracterizam-se como linguagem moderna e os períodos longos, linguagem clássica usada pelos grandes escritores latinos e portugueses do século XVI e XVII, mas que alguns escritores modernos se apropriam dessa linguagem cujos períodos são longos e complexos.
Voltemos a discorrer sobre o uso da voz passiva do ponto de vista desse autor. Ele explica que o uso da voz passiva pode ser considerado linguagem composta ou complexa, pois os enunciados tendem a ficar mais longos e consequentemente exige mais do leitor. A linguagem curta e simples pode melhor satisfazer os leitores modernos, porém poderão existir críticas sobre o estilo ou preferencias. Por outro lado, existem vantagens. Ele continua. “Ora, a técnica para a formulação de períodos curtos reside em separar com inteligência as orações coordenadas e evitar a subordinações mais aparentes do que reais, para não incidir em composição de um período emaranhado e complexo.” (CAMARA JÚNIOR, 1998, p.74). Está claro que o autor critica o uso de períodos longos, pois muitas vezes são desnecessários ou até mesmo artificiais. Ele então sugere que a construção dos períodos curtos e simples tornam o texto mais claro, e logico. A seu ver, Isso contempla as necessidades dos leitores modernos.
Tratando-se de textos literários, enxergamos com bons olhos o uso da voz passiva. Contudo, se o texto for de cunho informativo, por exemplo, o uso de linguagem rebuscada e complexa pode não ser uma boa opção para o leitor moderno. O escritor precisa então ter em mente o publico para quem o texto é direcionado. Para Enkvist (1964) e seus colaboradores, o estudo minucioso de um texto com o fim de examinar lhe o estilo, implica o desenvolvimento de uma resposta ponderada para o uso da linguagem nele, pois se as reações impressionistas à linguagem do texto são mais do que complementadas, precisam ter estágios explícitos e o processo dialético da linguagem deve ser claro para o leitor.
Voltando ao ponto de vista de Camara Júnior (1998), o uso da linguagem normal, nesse caso os períodos curtos e simples, é por ele visto da seguinte maneira. “Um dos grandes fins da linguagem (...) é a comunicação ampla e eficiente entre os homens. Daí decorre que cada língua é um sistema de comunicação e que uma informidade geral nesse sistema é a melhor condição para a sua eficiência. Há, portanto, em toda sociedade humana a necessidade de uma linguagem normal pela qual todos se pautam.” (CAMARA JÚNIOR, 1998, p.92). Sabemos que é preciso a obediência ao padrão linguístico ou estilístico de uma dada obra, pois sua unidade e estabilidade existem como ideais para a humanidade (grupos sociais) literária. Contudo, o estilo deste ou daquele autor pode não ser considerado espontâneo, ou seja, ele segue regras estilísticas voltadas para objetivos específicos do texto ou da obra. 
Na visão de Enkvist (1964), se um olhar literário-linguístico fornece indícios de certos traços linguísticos como sendo de importância fundamental no estabelecimento do estilo particular de um texto, assim, podem-se produzir quadros estatísticos para comparar seu julgamento intuitivo. Os autores explicam. “tal processo corre o perigo de fixar traços estilísticos significativos antes de analise cuidadosa, desse modo fechando a porta à possibilidade de modificar e desenvolver a hipótese original.” (ENKVIST, SPENCER & GREGORY, 1964, p.100). Nesse caso, a linguagem é sugerida como sendo de traços característicos e uso particular da língua pelo escritor. Isso pode ser julgado e dado o reconhecimento do estilo, porém faz-se necessário uma verificação acentuada e rigorosa por meio de intuição e descrição dos traços estilisticamente significativos presentes na obra.
Segundo Ilari (2013), "Existem na língua expressões que são adequadas para a formação vaga dos fatos que se quer narrar ou descrever, mas que devem ser evitadas quando se pretende uma formulação mais exata." (ILARI, 2013, p.47). Ele explica que nomes de pessoa, como apelidos ou jeitos especiais, carinhosos ou não para se referir a um individuo ou a um grupo de pessoas, ou para simplificar um dialogo. Por exemplo, além de evidenciar a linguagem rebuscada e arcaica, o trecho abaixo nos mostra esse aspecto, jeito especial de se comunicar com outros indivíduos.

“A Revolução dos Bichos” – a repetição da palavra camarada – exemplo:
“Camaradas, já ouvistes, por certo, algo a respeito do estranho sonho que tive a noite passada. Mas falarei do sonho mais tarde. Antes, tenho outras coisas a dizer. Sei, camaradas, que não estarei convosco por muito mais tempo, e antes de morrer considero uma obrigação transmitir – vos o que aprendi sobre o mundo.”

Ilari prepondera que, nem sempre a escolha do uso da linguagem (o uso de períodos longos e complexos ou curtos e simples) prejudica a clareza; ao contrário, evitando a subordinação e aplicando certas operações de elipse que retiram materiais facilmente recuperáveis tornando mais fácil o procedimento do texto. Ilari (2013) ainda explica sobre expressões dêiticas e anafóricas. Ele aponta que, "As expressões anafóricas servem, tipicamente para 'retomar' outras passagens de um texto. Um exemplo típico é o demonstrativo 'isso' em frases como 'a gasolina subiu de novo, e isso vai gerar outros aumentos de preço'; nesse contexto, ficamos sabendo que a palavra 'isso' faz referencia ao aumento da gasolina, olhando para o texto que precede." (ILARI, 2013, p.55).
A partir dessa ótica, podemos dizer que o uso de anáforas em um determinado texto serve de um modo especial para retomar e reforçar a ideia do autor em seu texto. A anáfora constrói no texto um aumento que garante e reforça a coesão das ideias. Além disso, o uso de figuras de linguagem causa efeitos diversos em um texto. "Um fenômeno relacionado aos elementos afetivos do sentido é o eufemismo. O eufemismo (em grego 'boa fala') é o processo por meio do qual atuamos sobre os elementos afetivos, de modo a minimizar as associações/representações desagradáveis que associamos a uma determinada realidade." (ILARI, 2013, p.69).
Encontramos essa afetividade na obra "A Revolução dos Bichos". Podemos visualizar um pequeno trecho da obra na tabela abaixo:
Eufemismo:
O que ele quis dizer:
“Mimosa, a égua branca, vaidosa e fútil, que puxava a charrete do Sr. Jones.”
“Mimosa, a égua branca, toda fresca e metida, que puxava a charrete do Sr. Jones.”
“realmente ele não tinha uma inteligência de primeira ordem”
Ele realmente era burro.
“Quitéria era uma égua volumosa”
“Quitéria era uma égua grande e gorda”

Outras figuras de Linguagem
Comparação ou Hipérbole:
Ironia
“Sansão era um bicho enorme, de quase um metro e   noventa de altura, forte como dois cavalos.”
“Deus lhe dera uma cauda para espantar as moscas,   e, no entanto seria mais do seu agrado não ter nem a cauda nem as moscas”.

Para Ilari (2013), o uso de algumas figuras de linguagem com a metáfora ou a antítese, entre outras, podem ser caracterizadas como parte das várias expressões idiomáticas de uma dada língua. "Uso de certas expressões idiomáticas é até certo ponto próprio de certas faixas etárias, de certas regiões ou de certas culturas; por isso tem um forte valor conotativo. Por exemplo, somente pessoas de uma geração muito antiga usariam hoje as expressões 'passar a manta' e 'jogar a manta' com sentido de 'enganar', ou 'fazer pé de alferes a moça' no sentido de 'cortejar a moça'." (ILARI, 2013, p.79).
Nesse sentido, recomenda-se, portanto, no processo de tradução, que o tradutor esteja atento a esses aspectos ou particularidade linguísticos, pois nem sempre parece ideal traduzir para a língua alvo expressões idiomáticas que praticamente não se usa ou que já caiu em total desuso ou até mesmo porque pode causar perda de sentido das ideias ao longo do texto. Por isso, nos parece ser uma boa ideia adaptar alguns elementos do texto original para o texto alvo e assim evitar possíveis desconfortos por parte do leitor. Nesse caso, o conhecimento de cunho linguístico e literário ajuda piamente no trabalho do tradutor e, consequentemente, uma boa aceitação do seu trabalho perante a gama social para quem o texto é direcionado.
"Uma maneira de entender as sentenças da língua consiste em imaginar que elas representam 'pequenas cenas' nas quais diferentes personagens desempenham papeis necessários ao enredo. Estes papeis são determinados pelo verbo, e são mais ou menos fixos, isto é, tem um funcionamento até certo ponto independente das relações de concordância, regência e colocação, tradicionalmente descritas nas gramaticas." (ILARI, 2013, p.131).
Acerca dessa concepção, podemos afirmar que o processo de tradução ou o trabalho do tradutor é regido pelo contexto que por sua vez também é determinado pela historia da língua, pelos elementos linguísticos, culturais e suas relações com um dado contexto histórico. O trabalho do tradutor é minimamente independente, pois todos os outros aspectos são unidades arbitrarias que possibilitam a construção do texto em qualquer língua alvo para a qual um texto ou uma obra será traduzido. 
No que diz respeito à estrutura linguística do texto, Ilari (2013) expõe que o uso de diferentes mecanismos sintáticos cria alternativas de expressão para o mesmo conteúdo. Através das operações sintáticas podemos construir frases sinônimas, porém é preciso garantir e expressar seus sentidos. Esses processos de construção de frases ocorrem por meio do uso de paráfrases. Dessa maneira temos uma frase na voz passiva que pode ser expressa na voz ativa ou vice-versa. A modificação ou substituição das formas verbais pode comprometer o sentido da frase, por isso, para fazer esse manejo linguístico é preciso conhecer bem e saber usar as línguas e suas gramaticas. Assim, podemos evitar possíveis desvios ou equívocos linguísticos e textuais.
"Às vezes, a expressão formada por um substantivo mais um verbo 'semanticamente fraco' pode ser substituída com vantagens por um único verbo com a mesma raiz que o nome: efetuar o calculo do imposto = calcular o imposto (...) Às vezes, é vantagem utilizar a expressão composta (verbo + nome)." (ILARI, 2013, p.155). As inversões das frases são interessantes, porém é preciso analisar e avaliar as construções sintáticas antes de substituir uma modalidade de frase pela outra, ou seja, semanticamente qual será mais forte? Claro, se no processo de tradução de um texto fonte para um texto alvo, semanticamente, uma frase for fraca na língua fonte, talvez não seja interessante mantê-la no texto da língua alvo. Nesse caso, o tradutor fará sua escolha quanto ao uso do estilo. A mudança pode ser feita, o texto na língua alvo pode se tornar até mais interessante, logico e cativo, entretanto, é preciso ter certeza de que as mudanças não empobrecera semanticamente a obra ou o texto traduzido.
Discutimos diversos pontos de vista em relação ao estudo de estilo, pois esse tem seus valores e pode ser analisados de diferentes formas. Um estudo mais profundo poderá explorar melhor essa nossa pequena contribuição acerca do estilo, pois o que temos discutido até então representa apenas a menor parte da ponta de um iceberg, comparado com o que se pode ainda explorar sobre o tema.
Quanto a um possível julgamento de um texto e seus traços estilísticos, Enkvist (1964) coloca o seguinte: "Uma analise minuciosa de traços estilísticos dentro do texto tem como um de seus fins ir além das generalizações, dos rótulos metafóricos, dos quais o estudo literário de estilo faz tanto uso." (ENKVIST, 1964, p. 107).Com base nessas afirmações, concluímos que é preciso valorizar e discutir o estilo em literatura, seus aspectos a partir da nossa sensibilidade e consciência de que se trata de uma obra literária. Assim, um estilo rebuscado também faz muito leitor se sentir melhor e mais valorizado. Em contra partida, o estilo simples em textos literários pode caracterizar o leitor como pobre ou incapaz de entender essência da obra literária.
A partir dessa visão, como tradutores precisamos interpretar certas estruturas ou elementos linguísticos e considerar simultaneamente aquilo que acontece em nossa época e ao mesmo tempo conectar informações entre épocas diferentes. Para tanto, precisamos considerar metodologias de forma unificada: a literatura e a linguística. Em outras palavras, precisamos utilizar métodos linguísticos, ou seja, apenas métodos literários poderão ser insuficientes para realizar essa tarefa. Com o uso dos dois métodos, teremos um mundo maior de possibilidades e caberá a nós fazermos uso do que nos convém e do que melhor se adequa no texto e seu contexto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CAMARA JUNIOR, J. M. Manual de expressão oral e escrita. Petrópolis, Vozes, 1998.
ENKVIST, SPENCER & GREGORY. Linguística e Estilo. Editora Cutrix, 1964.
 ILARI, Rodolfo. Introdução a Semântica: brincando com a gramatica. Ed. Contexto, 2013.
 ORWELL, G. A Revolução dos Bichos: um conto de fadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

MORAIS, J. F. S.
Sobre o autor:

Graduação em Letras (Português e Inglês) pela Universidade Ibirapuera de São Paulo (2004). Especialista em Língua Inglesa pelo Centro Universitário Ibero-Americano (2008). Graduação em Pedagogia pela Universidade Nove de Julho (2012). Pós-graduado em Didática e Metodologia do Ensino Superior (2014) e tradução (Inglês e Português) pelo Centro Universitário Anhanguera de São Paulo (2016). Experiência no ensino de línguas desde 2000 e atualmente é professor em escola bilíngue e tradutor freelance.

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