EDUCAÇÃO BILÍNGUE E SUA REPERCUSSÃO NO ENSINO SUPERIOR
Considerações iniciais
Neste artigo,
pretendemos esboçar alguns argumentos acerca de educação bilíngüe como uma proposta
educacional moderna para o nosso país. Para justificar nossa idéia sobre esse
modelo de educação, nos apoiamos em Garcia (2009). Para ela, a educação
bilíngüe desenvolve entendimento múltiplo sobre as línguas e culturas além de
promover e aumentar interesses pelas diversidades humanas e possibilita a formação
de cidadãos globais. Após a primeira guerra mundial, a educação bilíngüe foi
abandonada, os estudos das línguas estrangeiras ficaram restritos em vários
países, principalmente nos EUA. Garcia explica que isso se deu por causa do
isolacionismo e nacionalismo da sociedade norte americana após a guerra. Questões
como essas entre outras serão discutidas ao longo do nosso trabalho.
Com base nos apontamentos
de Uyeno e Cavallari (2011), falaremos sobre bilingüismo no Brasil e a vinda
dos povos europeus para esse país. Com isso trataremos também do que ocorreu
quando todos se juntaram com os índios e posteriormente os negros (escravos) e
outros grupos sociais cujas culturas eram diversas. Para as autoras, os vários
acontecimentos de cunho lingüísticos, históricos e sociais nos tornam
indivíduos não só bilíngües, mas também poliglotas.
Já do ponto de vista de
Claude Hagége (1996), discutiremos sobre a presença do bilingüismo no mundo e optar
por uma educação formal bilíngüe é uma possível solução para acompanhar essa
realidade social. Por estarmos inseridos neste contexto, discorreremos sobre
nosso desejo de que todos tenham a oportunidade de ter uma formação bilíngüe,
português e o inglês, para que os alunos cheguem ao ensino superior sem a preocupação
em aprender esse idioma, pois nesse quesito já estarão bem preparados para
seguirem sua vida profissional e pessoal.
Na visão de Bakhtin
(1981) as línguas são como uma bola que segue o fluxo da comunicação que avança
continuamente. E a língua como uma bola pula de geração para geração e esse
fluxo da língua reflete bem a necessidade de se comunicar em uma segunda
língua. A partir do olhar de Bakhtin, tentaremos justificar o porquê de muitos alunos
estarem fora da equação quando se trata de conhecimento de língua estrangeira;
e como uma educação bilíngüe formal desde cedo pode mudar o cenário atual.
Para falar do papel do
homem na sociedade, nos apoiaremos em Fiorin (2002). Para ele, nossas
necessidades são regidas pela sociedade. Decidir estudar uma segunda língua
apenas ao chegar ao ensino superior, como uma decisão individual, significa
remar contra a maré. Os fatores sociais são quem decidem e determinam o que e
quando devemos fazer algo. Também, partir de alguns apontamentos de Vygotsky
(2002), mostraremos evidencias que também estão presentes na fala de Cavallari
(2011), as quais nos apoiarão na nossa idéia de um sistema de educação bilíngüe
formal no país.
A educação bilíngüe se
mostra um novo paradigma, uma nova missão para o sistema educacional
brasileiro. Tura (2002) nos ajudará a pensar como nossos governantes e
políticos poderão nos apoiar na aprovação de um sistema de educação bilíngüe
abrangente nas grandes cidades e nas cidades turísticas existentes de norte a
sul do Brasil. A prática educativa carece acompanhar as transformações sociais,
é preciso levar em consideração as mudanças e as necessidades das comunidades e
dos grupos sociais de todo o país. Rocha, Tonelli & Silva (2010) nos darão
o suporte para discorrermos sobre as fronteiras com outros países e sobre a carência
de uma língua específica, nas diferentes regiões e comunidades que carecem de
segunda língua para se comunicarem.
A idéia de ensino
bilíngüe é ensinar língua e conteúdo de forma integrada. Sobre isso recorremos
a Mehisto (2008). Segundo o autor, com base nos fatos históricos, esse modelo
de ensino de língua se mostrado eficiente, por isso recomendamos a importância
dessa abordagem metodológica. Nesse modelo de educação bilíngüe se oferece um
programa de ensino por imersão. Esse modelo tem apresentado sucesso no mundo
inteiro, dando suporte a primeira língua e vice-versa, pois, como explica
Mehisto (2008), o ensino da segunda língua separadamente não tem apresentado
resultados satisfatórios em larga escala.
Lucy Calkins (2010) nos
auxiliará a explicar o aumento no senso de urgência nos últimos anos para uma formação
moderna, pois ter uma formação acadêmica bilíngüe, além de aprendemos línguas,
diferentes culturas, conteúdos diversos, desenvolve principalmente as
habilidades necessárias para atuarmos em todos os segmentos da sociedade
moderna.
Pressuposto Teórico
Não nos resta nenhuma
dúvida que a educação bilíngüe é uma proposta educacional bem diferente dos
programas de educação tradicional. Os programas tradicionais ou convencionais
promovem o ensino de uma segunda língua ou de uma língua estrangeira e as
tratam como uma disciplina escolar independente. A esse respeito, Garcia (2009) explica: "For the most part, these traditional
second - or foreign - language programs teach the language as a subject,
whereas bilingual education programs use the language as a medium of
instruction; that is, bilingual education programs teach content through an
additional language other than the children's home language." (GARCÍA, 2009, p.6). [Na maior parte das vezes, estes programas de segunda língua – ou língua
estrangeira – ensinam a língua como uma disciplina, enquanto que os programas
de educação bilíngüe usam a língua como um meio de instrução; isto é, programas
de educação bilíngüe ensinam conteúdos através de uma língua adicional que não
seja língua materna das crianças.]. (Tradução nossa.).
Na visão da autora, a
educação bilíngüe desenvolve entendimento múltiplo sobre as línguas e culturas
além de promover e aumentar interesses pelas diversidades humanas. Dessa
maneira, o foco da educação bilíngüe não é somente na aquisição de uma segunda
língua, mas também em ajudar os alunos a se tornarem cidadãos globais e
responsáveis por sua própria aprendizagem. Isso ocorre na medida em que eles
aprendem através da cultura e do mundo do outro. Isto é, além das fronteiras
culturais nas quais a aprendizagem geralmente acontece.
Ainda na visão de
Garcia (2009), a educação bilíngüe é comparada com as duas rodas de uma
bicicleta. Uma roda é a primeira língua e a outra representa a segunda língua
ou a língua estrangeira que um indivíduo aprende. As duas rodas (neste caso as
duas línguas) são tratadas separadamente e ao mesmo tempo as duas formam um
todo. Entretanto, as duas línguas são vistas como sistemas autônomos e
independentes. Contudo, não satisfeita com essa idéia, ela afirma que essa
comparação não se iguala ao conceito de educação bilíngüe no século XXI, pois
apenas isso não é suficiente. Hoje, a educação bilíngüe deve ser vista como um
veículo com rodas e sofisticados equipamentos necessários para trafegar em
qualquer tipo de terreno.
Essa idéia parece
causar preocupações para algumas nações. "In the United States,
the growth of immigration and migration, especially of Spanish Speakers, has
unleashed a reaction against bilingual education, leading to the substitution
of the term 'bilingual' by the term 'English language acquisition'". (GARCIA, 2009, p.10). [Nos Estados Unidos, o crescimento da imigração e migração, especialmente
de falantes espanhóis, desencadeou uma reação contra a educação bilíngüe,
levando à substituição do termo "bilíngüe" pelo termo "aquisição
da língua inglesa.]. (Tradução nossa.).
Segundo Garcia, os
estados da Califórnia, Arizona e Massachusetts declaram ilegal o termo educação
bilíngüe. Esse termo é apenas usado nos programas e cursos para estrangeiros
nos Estados Unidos. O termo bilíngüe não pode ser usado em programas de
educação entre falantes do idioma inglês onde duas línguas são usadas como
instrumento de educação das crianças.
Parece que o uso de
duas ou mais línguas em uma determinada nação pode ter causado algum
inconveniente para os governantes. Mas o uso de duas línguas na educação formal
não é uma prática recente. Segundo Garcia (2009), essa prática acontece há
quase 5, 000 anos. Segundo a autora, os povos antigos usavam duas línguas e
isso era visto como algo enriquecedor, não uma ameaça. Antigamente, os alunos
traduziam os textos clássicos para textos vernaculares. Isso era uma forma de
educação bilíngüe. Outra forma era a leitura de textos sagrados em uma língua,
em seguida, as discussões desses textos em outra língua.
Garcia explica que a
educação bilíngüe pode ser vista como um problema por muitas razões. "Especially
after World War I and II, nations within the constructed 'nation-state,' whose
languages did not coincide with one elevated to privileged status, became cause
for concern. This was the case, for example, of Lutuians in the former Sovietic
Union who were forced to learn Russian and give up Lutuian, the nations and
their languages were viewed as a problem." (GARCIA,
2009, p.14). [Principalmente depois da Primeira e
Segunda Guerra Mundial, nações dentro do construído "estado-nação",
cujas línguas não coincidia com um elevado status privilegiado, tornou-se
motivo de preocupação. Este foi o caso, por exemplo, dos Lutuians na ex-União
soviética que foram forçados a aprender russo e abdicar do idioma Lutuian, as
nações e as suas línguas eram vistos como um problema.]. (Tradução nossa.).
A autora afirma que,
nos Estados Unidos, várias línguas foram proibidas de serem usadas no país. Em
1855, o inglês foi declarado a única língua de instrução e os julgamentos nas
cortes judiciais passaram a ser obrigatoriamente em inglês. Theodore Roosevelt
declarou que imigrantes que não falassem inglês após cinco anos no país
deveriam retornar para seus países de origem, pois muitos americanos nasciam no
país e não falavam inglês, a língua da nação americana. Em vez disso, eles eram
um monte de poliglotas ambulantes falando suas próprias línguas. Porém, o
governo americano queria possuir apenas uma bandeira e que todos falassem apenas
uma língua, o inglês, a língua da declaração da independência.
Após a primeira guerra
mundial, a educação bilíngüe foi abandonada, os estudos de línguas estrangeiras
ficaram restritos em vários países, principalmente nos EUA. Garcia explica que
isso se deu por causa do isolacionismo e nacionalismo da sociedade norte
americana após a guerra. A criação das escolas públicas e a presença
obrigatória dos alunos, pois as escolas religiosas não deram conta da demanda.
Alunos e professores não tinham permissão para falar outras línguas, apenas o
inglês era permitido. A não obediência a essa regra, alunos e professores eram freqüentemente
detidos, punidos e multados pelo governo. Na época os Estados Unidos era de
fato um país poliglota, e isso representava um problema para o governo e para a
nação norte-americana.
Acreditamos que apesar
da possibilidade de ser vista como um problema, nas ultimas décadas, a educação
bilíngüe passou a ser vista como instrumento, uma maneira moderna, capaz de
melhorar e revolucionar o ensino de línguas no mundo. Por isso, essa prática se
faz efetivamente presente atualmente, pois se trata de uma questão de
modernização e assimilação entre todas as pessoas, as quais são vistas como
cidadãos globais. Garcia (2009) pondera que as mudanças na população mundial e
o numero de migrantes dobraram entre 1960 e 2000. Imigrantes circulam pelo
mundo, estudantes e turistas internacionais. Tudo isso contribui para esse
movimento populacional entre diferentes nações. Essa é a razão e o que faz do bilingüismo
algo muito importante no século XXI.
Ela acrescenta que as
tecnologias de comunicação acessíveis neste mundo globalizado também
possibilitam as trocas e as terceirizações de serviços entre os países e,
melhor, com baixo custo. Nesse processo, indivíduos bilíngües acabam sendo
fontes de mão de obra de grande valia e uma fonte de prestação de serviço muito
importante. As pessoas usam o VOIP (Voice Over Internet Protocol) disponível
para consumidores e sem custo, os telefones celulares com suas capacidades de
enviar SMS (Short Text Message) entre outros meios que possibilitam a
comunicação com facilidade entre as pessoas, não importa o local ou o país onde
elas estejam a língua pela qual desejam se comunicar e até mesmo as diferentes
modalidades de comunicação desejada.
Pessoas em qualquer
lugar do mundo assistem DVDs. Eles têm as opções de áudios e legendas em
diferentes línguas. Apenas isso já é uma maneira eficaz para desenvolver
proficiência bilíngüe. Os programas e os aparelhos de TV fornecem e
disponibilizam a tecla SAP (Secundary Audio Programming) o áudio original e
também (close caption) o texto que acompanha o vídeo em diferentes línguas. As
pessoas têm acessos a diferentes recursos áudio visuais, vídeos, arquivos de
multimídia, internet etc., são recursos que possibilitam o aumento do contato
com outras línguas e conseqüentemente com o bilingüismo. Geralmente isso ocorre
entre uma dada língua e o idioma inglês, mas isso tem mudado
significativamente.
Garcia afirma que, na
web em 2000, o inglês era a língua mais usada (68%). Entretanto, em 2008 esse
percentual caiu para 30%. Apesar dessa queda, a língua inglesa ainda é a língua
predominante nos mais diferentes canais de informações. BBC e CNN são bons
exemplos disso. Todos esses diferentes recursos tecnológicos contribuem para
espalhar o bilingüismo pelo mundo a fora. Por isso, consideramos a implantação
da educação bilíngüe formal uma necessidade social atual.
Uyeno e Cavallari
(2011), ao falarem sobre bilingüismo no Brasil, ponderam que com a vinda dos
povos europeus para esse país, suas diferentes línguas e grupos socioculturais
distintos se juntam com os habitantes da terra, os índios que embora, na época,
não fossem considerados gente, contribuíram para as diversas transformações lingüísticas,
inclusive as línguas dos brancos foram transformadas pelos índios e
posteriormente pelos negros (escravos), outros grupos sociais e suas diversas
culturas. Enfim, depois de tantas influencias recíprocas e transformações, hoje
temos a nossa, linguisticamente, rica língua portuguesa brasileira.
No
século XIX, com a forte imigração de italianos, alemães e japoneses, mais
braços foram se juntando sobretudo a língua-cultura das regiões sul e sudeste.
Isso sem falar das invasões holandesa e francesa nos séculos precedentes. Hoje,
fenômeno típico da sociedade chamada pós-moderna, a migração se tornou um
fenômeno cotidiano, em todas as partes do mundo. Além disso, o fenômeno da
globalização transformou a língua inglesa em língua comum, o que,
inevitavelmente, traz consigo aspectos econômico e culturais estadunidenses.
Como, então, falar de uma única língua cultura? (CAVALLARI, UYENO, 2011, p.12).
Para as autoras, neste
contexto, ninguém tem uma única língua ou duas línguas (ninguém é bilíngüe,
pois mesmo que tenhamos uma primeira língua, existem várias línguas dentro
dela, pois cada indivíduo é recebido em um mundo que já este feito, com
tradições, valores, costumes, crenças, língua, elementos formados ao longo dos
anos). Portanto, apesar de existir uma língua oficial em cada país, essa língua
tida como padrão carrega inúmeras influências de diversas outras línguas
(sintaxe, semântica, etc.). Nessa perspectiva, sem ter essa consciência, cada
individuo nasce e aprende várias línguas ao longo de sua vida, mesmo que ele se
considere monolíngüe.
Podemos dizer que somos
todos bilíngües ou até mesmo poliglotas, pois, apesar de termos nossa língua
materna, nós freqüentamos a escola para receber nossa educação formal nessa
primeira língua, que acaba sendo uma língua madrasta e não materna, pois, como
sugere Cavallari (2011), principalmente na escola através dos professores, essa
língua pune, tira nota, reprova, anula o prazer etc.. Na prática, ela acaba
sendo uma língua tão estrangeira quanto qualquer outra, principalmente quando
levamos em consideração as variações lingüísticas, regionalismos, entre outros
aspectos lingüísticos presentes na nossa língua portuguesa brasileira, por
exemplo. É, somos todos bilíngües, ou melhor, somos todos poliglotas.
Do ponto de vista de
Claude Hagége (1996), "não existe
praticamente país onde o bilingüismo não esteja presente, e o numero de
indivíduos bilíngües deve ser estimado numa proporção, aproximadamente, igual a
metade da população total do globo". (HAGÉGE, 1996, p.7). Hagége
enfatiza que por este motivo, surgem necessidades de conhecimento das línguas
de outros países, para suprir, por exemplo, as necessidades de empresas
estrangeiras que procuram indivíduos capazes de se comunicarem em mais de uma
língua. Para nós, atualmente o bilingüismo é uma questão de sobrevivência, dos
indivíduos e ate mesmo das línguas.
No mundo corporativo,
inúmeros profissionais não dominam o idioma inglês, por isso são vistos como
profissionais despreparados. No ensino superior, muito de nós vivemos momentos
formais de preparação para o primeiro emprego ou para conseguirmos melhores
oportunidades de trabalho. Muitos indivíduos já estão inseridos no mercado de
trabalho e no mundo corporativo. Nesses seguimentos, as empresas exigem
conhecimento de uma segunda ou terceira língua. Na maioria dos casos, o idioma
inglês está em primeiro lugar. Se isso representa um fato, não devemos esperar
chegar ao ensino superior para então começarmos a aprender uma segunda língua.
Devemos começar o quanto antes. Optar por uma educação formal bilíngüe é uma
possível solução para essa necessidade social.
Acreditamos que, o
individuo bilíngüe adquire capacidades cognitivas superiores às dos indivíduos
que aprendem apenas sua língua materna. Para Hagége, nessa concepção, quando
uma pessoa tem uma formação bilíngüe, ela terá condições de iniciar no ensino
superior e no mercado de trabalho muito mais preparado para as tarefas que irá
fazer e os vários desafios propostos nesse nível de ensino e nas situações do
dia a dia em diferentes profissões. Além disso, acreditamos que tanto para
alunos quanto para professores universitários, há uma crescente necessidade de
ser bilíngüe, pois nos dias de hoje é muito comum a presença de alunos e
professores estrangeiros nesse seguimento de educação.
Acreditamos que um
indivíduo bilíngüe pode desenvolver maior domínio lexical ou gramatical em
qualquer uma das línguas, na primeira ou na segunda. Contudo, Hagége (1996)
pondera que isso não significa que o individuo se comporte diferente em cada
uma das línguas. Uma pessoa cuja primeira língua é o português, sendo
alfabetizado e exposto em inglês, em uma escola bilíngüe, por exemplo, neste indivíduo
o inglês pode se tornar a língua dominante; mesmo se o português seja sua
primeira língua.
Visto
que essa diferença entre dois tipos de predominância produz uma diferença entre
os processos 'cognitivos', como os da segmentação, podemos considerar que o
sujeito que, no seu comportamento lingüístico, denota um perfeito bilingüismo
não funciona como dois unilíngües reunidos numa mesma pessoa, mas como um único
indivíduo bilíngüe, no qual, apesar de tudo, pelo menos num domínio, uma das
duas línguas está mais enraizada. (HAGÉGE, 1996, p.43).
O autor enfatiza,
sobretudo, que esse enraizamento é uma produção social, ou seja, a exposição
continua do individuo em uma segunda língua, principalmente, desde cedo, mas
acreditamos que não necessariamente tão cedo, porém isso pode fazer uma grande
diferença. Desse ponto de vista, podemos afirmar que, um indivíduo bilíngüe, em
seu processo de educação formal, com a família e no meio social, pode torna-se,
linguisticamente, tão competente em uma segunda língua quanto na sua língua
materna.
Levando-se em
consideração esse conceito e a realidade social de nosso país, os contextos e
os ambientes nos quais alunos universitários estão inseridos, podemos alunos e
professores adquirir domínio quase absoluto de uma segunda língua,
principalmente se ela for o idioma inglês. Pois facilmente encontramos falantes
nativos desse idioma nas grandes cidades brasileiras, pois vivem e trabalham em
empresas multinacionais espalhadas por todo o Brasil. Além desses nativos,
encontramos estrangeiro cuja língua não é o inglês, mas faz uso dela para se
comunicar com diferentes outros estrangeiros.
Por estarmos inseridos
neste contexto, é desejável que tanto alunos quanto professores universitários
já tenham uma prévia formação bilíngüe, português e o inglês, por exemplo, pois
o mercado de trabalhado exige excelente formação profissional e proficiência em
uma segunda língua, no caso do inglês, fluentemente para atuar em diferentes
contextos e situações de negócios. Novamente, a formação bilíngüe formal se faz
necessário para dá conta dessa demanda que aumenta a cada momento em países em
desenvolvimento, como o Brasil.
No ensino superior,
muitos alunos só se preocupam em aprender o idioma inglês quando atingem esse
nível de estudo. Pois, geralmente, esse passa ser o momento no qual aprender
uma segunda língua ganha mais importância, exatamente por causa das exigências
do mercado de trabalho. É preciso mudar a maneira como os alunos enxergam a
relevância de aprender uma segunda língua. No caso do inglês, desde cedo
aprendemos que se trata de uma língua internacional, falada por boa parte da
população mundial.
A língua inglesa,
principalmente, está presente em quase tudo. Na internet, nos jogos online e
nos vídeo games, em diversos aplicativos, programas de TV, entre outros
recursos disponíveis para quem tem interessa de fazer uso deles. Até para
usufruir dessas tecnologias, é preciso aprender ou ser minimamente capaz de se
comunicar em inglês para assim acompanhar as mudanças e dos usos dos recursos
tecnológicos modernos. Bakhtin (1981) descreve a língua como uma bola que segue
o fluxo da comunicação que avança continuamente. E a língua como uma bola pula
de geração para geração. Nesse sentido, ele afirma que, "a língua é inseparável desse fluxo e avança juntamente com ele.
Na verdade, a língua não se transmite; ela dura e perdura sob a forma de um
processo evolutivo contínuo." (BAKHTIN, 1981, p.108).
Esse fluxo sugerido por
Bakhtin reflete bem a necessidade de se comunicar na língua inglesa. Esse
idioma tem ganhado grande prestigio no mundo inteiro e isso aumenta a cada
geração. Por isso, acreditamos haver, nos dias atuais, a necessidade crescente
de escolas bilíngües (português/inglês) para melhor preparar a população,
principalmente nas grandes cidades do país, onde essa necessidade se mostra
mais evidente. Dessa maneira, os alunos do ensino superior já chegarão às
universidades fazendo parte desse fluxo sugerido por Bakhtin, pois, na
realidade, muitos desses alunos estão fora da equação. Apresentam conhecimento
precário de inglês e só procuram aprender uma segunda língua quando se tornam
adultos, mesmo assim, quando jugam ter tempo disponível.
Acreditamos que o
acesso a uma educação bilíngüe formal desde cedo pode mudar o cenário atual e
garantir a inclusão dos indivíduos e ajudá-los a alcançar seus interesses, bom
nível de comunicação e conhecimento do inglês, quando de fato tem tempo hábito,
ou seja, ainda na idade escolar. Para esse fim, pensamos na língua inglesa,
pois é uma língua que por gerações tem ganhado prestigio e conseqüentemente
também evoluiu, na medida que o numero de falantes aumenta no mundo inteiro, o
que, linguisticamente, enriquece a língua através das inúmeras influencias de
outras línguas e culturas.
A história nos mostra
que as influências lingüísticas, sem dúvida, contribuem para a evolução de
qualquer língua. "A evolução da
língua, como toda evolução histórica, pode ser percebida como uma necessidade
cega do tipo mecanicista, mas também pode tornar-se 'uma necessidade de
funcionamento livre' uma vez que alcançou a posição de uma necessidade
consciente e desejada." BAKHTIN, 1981, p.127).
Podemos afirmar que,
com base na história da língua inglesa, sua evolução se deu por causa das
influencias lingüísticas e conseqüentemente pela necessidade natural e social
da língua e seus falantes. Atualmente por causa das exigências do mercado de
trabalho, o conhecimento dessa língua aumentou ainda mais. Por isso, o cidadão
moderno não vive socialmente sem uma segunda língua. Para suprir essa
necessidade, uma educação bilíngüe de qualidade parece ser uma iniciativa
viável, pois se trata de uma necessidade natural e social do homem moderno.
Ao falar do papel do
homem na sociedade, Fiorin (2002) sugere que isso deve ocorrer de forma conjunta.
O
'arbitro' da discursivação não é o indivíduo, mas as classes sociais. O
indivíduo não pensa e não fala o que quer, mas o que a realidade impõe que ele
pense e fale (...) sendo ele o produto de relações sociais, age, reage, pensa e
fala, na maior parte das vezes, como os membros de seus grupos sociais. Além
disso, as idéias que tem a disposição para tematizar seu discurso são aqueles
veiculados na sociedade em que vive. (FIORIN, 2002, pp.43-44).
Nossas necessidades são regidas pela
sociedade. Decidir estudar uma segunda língua apenas ao chegar ao ensino
superior, como uma decisão individual, significa remar contra a maré. Os
fatores sociais são quem decidem e determinam o que e quando devemos fazer
algo. Neste caso, ser capaz de se comunicar em pelo menos duas línguas é o que
a sociedade cobra atualmente. Para suprir essa necessidade social e a demanda,
é preciso ter instituições bilíngües acessíveis e de qualidade em locais
específicos, de acordo com as necessidades das regiões e das comunidades.
Acerca de educação bilíngüe
de qualidade, Hagége (1996) pondera que deve ser iniciada ainda na
adolescência, ou antes, o que ela chama de ensino precoce. Nesse modelo de
educação, tanto a segunda língua quanto a língua materna não devem ser
ensinadas como uma disciplina escolar. As línguas devem, igualmente, promover a
aprendizagem dos conteúdos, como acontece no ensino precoce, na língua materna.
"Mas o ensino precoce, por si mesmo,
não é o suficiente. É também da família ou da região em que ela nasceu, impõe
de forma perfeitamente natural a sua necessidade como segunda língua, se houver
uma outra primeira." (HAGÉGE, 1996, p.72)
Apesar de se tratar de
contexto familiar bilíngüe, independente de ser criança ou adulto, o contexto,
a realidade social e o prestígio da segunda língua e as instituições bilíngües
determinam o que o individuo necessita para a aquisição dessa língua de maneira
mais natural possível. Um programa bilíngüe dessa proporção será capaz de
formar alunos universitários mais preparados e que, sem dúvida, serão melhores
e mais preparados futuros profissionais no país. Esses indivíduos buscam
qualificação profissional, excelência e almejam ascensão social e melhores
salários e assim garantirem a desejada qualidade de vida. Estudar e ter um bom
nível de inglês pode nos ajudar a alcançar esses objetivos.
O povo brasileiro é
muito influenciado pela língua inglesa e pela cultura norte-americana. Isso de
certa forma torna-se um status desejado. A esse respeito, Cavallari (2011) diz
que, "Na sociedade brasileira
contemporânea, o lugar discursivamente construído da língua inglesa (LI) como
lugar de poder e que propicia a ascensão social está bem definido colocando em
funcionamento um imaginário em relação à LI." (CAVALLARI, 2011, p127).
Para a autora, a forte presença do inglês na nossa sociedade e o poder que ela
representa passa a fazer parte da identidade do sujeito e também de sua língua
materna, pois nesse contexto somos afetados pelos sons e dizeres da língua
inglesa.
As influencias ocorrem
através de músicas, programas de TV, rádio, Internet etc. Todos esses meios
contribuem e reforçam a presença marcante do inglês na vida e na fala dos
indivíduos brasileiros, em geral. Dessa maneira, na visão de Cavallari, o
inglês passa a fazer parte da primeira língua do sujeito, por exemplo, quando
ouvimos em conversas diversas entre amigos e colegas dizendo: "aquela
roupa é fashion", "preciso dar um feedback para a minha equipe",
"você pode me dar esse caderno, please?". Nesses exemplos, podemos
perceber que palavras em inglês poderiam ser facilmente substituídas por
palavras em português. Entretanto, por causa da forte influencia, a presença do
inglês na vida e nas relações sociais das pessoas fazem com que o sujeito se
aproprie de palavras e frases em inglês, naturalmente, na medida em que se
comunica em sua língua materna, o português.
As influencias do
inglês na fala do sujeito pode aparecer de propósito, mas acreditamos que isso
pode também acontecer de forma inconsciente. Para Cavallari, nos sujeitos cuja
base de estudo foi ou é na educação bilíngüe, essa interferência da língua
estrangeira pode afetar não só a fala, como também seu comportamento, cultura e
hábitos diários pertencentes ao individuo. Ao pensar em inglês e também em
português, como meios ou instrumentos de comunicação comuns nas relações
sociais de nós brasileiros, sejam elas diretas ou indiretamente, podem mudar
até a identidade do indivíduo, na medida em que se apropria do inglês como
língua estrangeira.
Para Vygotsky (2002), "A relação entre o uso de instrumento e
a fala afeta várias funções psicológicas, em particular a percepção, as
operações sensório-motoras e a atenção, cada uma das quais é parte de um
sistema dinâmico de comportamento." (VIGOTSKY, 2002, p. 41). Os
apontamentos de Vygotsky evidencia a fala de Cavallari, pois podemos sim dizer
que através de um sistema de educação bilíngüe, um indivíduo pode desenvolver
novos comportamentos, hábitos etc., mas também desenvolvem habilidades para
fazer conexões, inferências e suposições em suas relações sociais e de
aprendizagem, pois a formação bilíngüe contribui para uma formação de cunho
global do individuo, ou seja, é uma formação muito sugestiva para os futuros
profissionais que o país e o mundo esperam encontrar no mercado de trabalho
cada vez mais exigente.
Estudantes e
professores universitários precisam ler muito, sempre. São leituras exigidas
não só em português, mas em inglês e muitas vezes em outras línguas. Para
estarmos preparados para esse cenário moderno, na era da informação e exposição
às novas tecnologias, acreditamos que a população atual deve ser exposta a
leitura em inglês o mais cedo possível, sobretudo os jovens. Para tanto, as
oportunidades de uma educação bilíngüe de qualidade possibilitarão a quebra das
barreiras (dificuldades em se comunicar em inglês) presentes na vida da grande
maioria dos alunos, no ensino superior. Claro que existem muitos alunos
universitários cujo conhecimento do idioma inglês é admirável, mas isso
representa a minoria. Muitos são alunos que pertencem a elite do país,
indivíduos com melhores condições financeiras ou aqueles que tiveram
oportunidades e muito interesse em aprender a língua.
Lucy Calkins (2010)
evidencia que há um aumento no senso de urgência nos últimos anos. A era da
informação moderna, como nunca antes, tem exigido dos jovens o desempenho de
múltiplas habilidades no processo de letramento. Por isso, a educação bilíngüe
se faz necessária para todos os alunos, não apenas para a elite. Além disso,
vários estudos têm mostrado que a globalização e as novas tecnologias da
informação pedem urgência de mudança nas escolas e isso cria uma nova missão
para a educação. A autora afirma que vinte anos atrás 95% das oportunidades de
emprego não exigiam tanto dos candidatos. Atualmente, as mesmas oportunidades
apenas 10% não exigem tanto dos candidatos. Para nós, essas informações
reforçam ainda mais a crescente necessidade de ter uma formação acadêmica bilíngüe,
uma vez que nesse modelo de educação, os alunos aprendem línguas, diferentes
culturas, os conteúdos diversos e desenvolvem as habilidades necessárias para
atuarem em todos os segmentos da sociedade moderna.
Para alcançar essa
meta, é preciso investir na educação e na formação de profissionais. Esse
investimento deve ser abrangente o suficiente para causar efeitos
satisfatórios. Projetos de intercâmbios mais abrangentes envolvendo alunos e
professores, para promover e reforçar as oportunidades de uso da língua e as
trocas culturais e lingüísticas. Isso já seria um bom começo. Pois, apenas
material importados, como livros e recursos multimídia, softwares educacionais
e estrutura fica não darão a base necessária para professores e alunos
desenvolverem as diversas habilidades requeridas na sociedade moderna. Esses
recursos são de grande valia, porém não tem se mostrado efetivamente
satisfatórios na aquisição de uma segunda língua.
Nos argumentos de
Calkins (2010), ela ressalta que pesquisas revelam que apenas investimentos em
recursos tecnológicos não resolvem e não satisfazem as necessidades dos
indivíduos, professores e alunos. Qualquer tentativa de melhorar a educação sem
investir no corpo docente, apenas acreditando em softwares e programas
tecnológicos educacionais, não terá sucesso, pois para melhorar a educação e o
desempenho dos estudantes, é preciso dar suporte e investir no desenvolvimento
profissional de professores.
Apesar de existirem
equívocos acerca de educação bilíngüe, investir nesse modelo de educação é
relevante. Muitas vezes o bilingüismo é visto como um desvio da língua do
falante enquanto língua normativa e homogenia, ou seja, sem influencias de
outras línguas. Entretanto, a realidade social e lingüística nos faz acreditar
que o bilingüismo deve ser encarado como norma e não como desvio dela, pois até
as comunidades ditas monolíngües, na visão de Cavallari (2011), diante da
inevitável existência de variedades regionais, sociais e estilísticas dentro
daquilo que se considera uma língua se torna uma comunidade linguisticamente
heterogenia. No caso do bilingüismo, as comunidades e os falantes se beneficiam
linguisticamente e culturalmente. Em suma, tanto as comunidades monolíngües
quanto as comunidades bilíngües passam por processos de transformações sociais
e lingüísticas. E por que não dizer culturais?
Essa estudiosa do bilingüismo
descobriu que, no Brasil, em meados dos anos 30 e 40, escolas que ofereciam
ensino de línguas estrangeiras foram fechadas e os estrangeiros que aqui viviam
eram proibidos de falar suas línguas maternas. Havia uma onda de proibição, um
movimento cuja pretensão era manter um país monolíngüe. Para tanto, os
imigrantes tiveram de aprender o português e se tornarem brasileiros, mesmo
contra suas vontades. Caso contrário, teriam de ir embora do país. Contudo,
essa tentativa de criar uma homogeneidade nacional não teve sucesso. O alemão,
entre outros casos, "A língua
trazida se perpetuou por gerações, se mantém viva até hoje em colônias do sul
do Brasil e ainda é a primeira língua falada para as crianças." (CAVALLARI,
2011, p.179).
Com base nessas
evidencias, podemos concluir que uma tentativa de evitar o bilingüismo em um
país cheio de estrangeiros e a crescente necessidade de aprender uma segunda
língua, fechar os olhos para este fato significa querer remar contra uma forte
maré. As evidencias mostram o grande poder desse fator social, o bilingüismo,
sem falar das influencias lingüísticas e culturais que com ele se espalham por
todo país. Com base nisso, não podemos negar a carência de instituições de
ensino bilíngües, pelo menos nas comunidades e nas regiões onde essa
necessidade se faz mais presente.
No ensino superior,
espera-se encontrar leitores competentes, capazes de se comunicarem em outras
línguas além do português. Sabemos que nem sempre isso ocorre. Para suprir essa
necessidade, os indivíduos devem chegar as universidades com capacidade ou
fluência em pelo menos duas línguas, o português e uma língua estrangeira.
Dessa maneira, o desejado leitor terá uma fluência nas duas línguas e serão
capazes de realizar as tarefas que para eles são estabelecidas. Esse desejo de
ter indivíduos proficientes, em diferentes línguas, será realizado se eles
tiverem uma educação bilíngüe formal desde cedo. Os profissionais com formação bilíngüe
chegarão no mercado de trabalho mais bem preparados que indivíduos monolíngües.
Para que a educação bilíngüe
seja garantida e eficaz, é preciso adotar uma série de medidas governamentais:
continuidade do ensino bilíngüe, incentivo para a aprendizagem e formação de
professores. Essas são possíveis garantias para formar indivíduos para o mundo
moderno e para enfrentar os desafios propostos no ensino superior e
posteriormente o mercado de trabalho. Hagége (1996) sugere que o ensino bilíngüe
necessita de manutenção permanente dos conhecimentos adquiridos e dos novos
conhecimentos. Caso isso não seja assegurado, a formação bilíngüe nas escolas
pode ser fortemente comprometida. Dessa maneira, sem a garantia de uma formação
bilíngüe de qualidade, ao chegar ao ensino superior, os alunos não terão a base
bilíngüe necessária para seguirem seus estudos e, efetivamente, realizarem suas
profissões.
Vemos o Brasil como um
país extenso que não necessariamente precisa ter uma proposta de educação bilíngüe
para todos os brasileiros, mas isso seria uma medida muito eficaz, pois "(...) o obstáculo principal que impede
o assegurar da continuidade, é a ausência de homogeneidade. É, pois,
indispensável proporcionará a todas as crianças de um país, e não apenas as de
determinadas regiões ou de determinados estabelecimentos, um ensino precoce de
uma língua estrangeira." (HAGÉGE, 1996, p.128). Para o autor, sem uma
medida homogenia para todo um país, a garantia de uma formação bilíngüe
apresentará chances de fracasso, pois muitos alunos não possuirão as mesmas
competências lingüísticas esperadas pelas instituições de ensino do país.
A idéia de
homogeneidade bilíngüe sugerida por Hagége é para países europeus, geralmente,
países pequenos. No caso do Brasil, essa idéia poderia ser aplicada para os
estados. Muitos deles são considerados maiores e mais populosas que muitos
países europeus. Uma medida governamental que garanta uma educação bilíngüe
formal e homogenia nas grandes cidades de cada estado brasileiro, levando-se em
consideração a segunda língua estrangeira que neste ou naquele local seja
ensinada, representa uma boa adaptação as nossas necessidades acerca da
educação bilíngüe. Isso sendo feito e aplicado desde cedo, na idade escolar das
crianças, só trará benefícios para os jovens.
Hagége (1996) sugere o
inicio da educação bilíngüe formal desde os primeiros anos, quando as crianças
iniciam seus primeiros estudos regulares formais. Através da educação bilíngüe
precoce, as vantagens de aprendizagem aumentam significativamente, pois como
coloca Vygotsky, "A memória de
crianças mais velhas não é apenas diferente da memória de crianças mais novas;
ela assume também um papel diferente na atividade cognitiva. A memória, em
fases bem iniciais da infância, é uma das funções psicológicas centrais, em
torno da quase constroem todas as outras funções." (VIGOTSKY, 2002,
p.66).
Para Vygotsky, o ato de
pensar na criança pequena é determinado pela sua memória, pois pensar significa
lembrar. Existe uma conexão entre essas duas funções psicológicas. Na medida em
que as crianças crescem, na visão do autor, essa conexão pode deixar de
existir. Por isso, muitos indivíduos adultos apresentam enormes dificuldades em
aprender uma língua estrangeira, uma vez que é necessário pensar e lembrar
sobre aspectos lingüísticos em ambas as línguas. Especialmente para os adultos,
esse exercício gera muito cansaço e desanimo para aprender uma segunda língua.
A criança, por sua vez, é capaz de usar essas duas funções naturalmente e quase
não apresentam dificuldades. Essas vantagens eliminam muitos dos empecilhos que
surgem no processo de aprendizagem de um adulto.
Se levarmos em
consideração essas vantagens que as crianças pequenas tem em aprender línguas,
a idéia de implantar um projeto de educação bilíngüe abrangente, em um país
como o Brasil, é extremamente viável. A implantação de um projeto como esse
significa acabar com o grande índice de alunos universitários cujos
conhecimentos do idioma inglês são extremamente limitados. Um projeto de
educação bilíngüe formal, desde os primeiros anos escolares e sua manutenção
até a formação de cada individuo, vem de encontro às necessidades dos cidadãos
e da sociedade atual.
Para Hagége (1996), a
criança precisa viver inteiramente no tempo presente em ambientes bilíngüe. "É por essa razão que é necessário
procurar, de forma permanente, tornar-lhe presente a língua estrangeira que
queremos ensinar-lhe." (HAGÉGE, 1996, p.129). O autor prepondera que a
criança vive sempre no tempo presente, ou seja, ela não se preocupa com o
passado ou o futuro. A criança está preocupada apenas com o momento presente.
Isso lhe dar o poder de aprender línguas com toda a facilidade do mundo.
Entretanto, com a mesma facilidade, a criança esquece ou perde tudo que
aprende. Por isso são necessárias a manutenção e a sustentação da aprendizagem
de uma dada língua estrangeira.
O mesmo autor salienta
que, quando uma criança sai de um ambiente bilíngüe por um longo período de
tempo, as perdas são ainda maiores, pois não consegue manter vivo o conhecimento
adquirido. O ideal é colocar a criança em um ambiente bilíngüe, de preferência
formal, para manter vivos os conhecimentos adquiridos nas aulas.
As crianças postas, muito cedo na sua vida, em
contato com outra língua para além do seu idioma materno, apesar de revelarem
sinais notáveis de um bilingüismo em vias de criar raízes, perderão a maior
parte dessa aquisição precoce se deixarem de estar expostas à língua em questão
durante um longo período, mesmo quando este é anterior aos 10 anos, altura em
que as suas faculdades de assimilação estão na sua plenitude e no seu auge da
sua vivacidade.
(HAGÉGE, 1996, p.131).
A possibilidade de um
projeto de educação bilíngüe abrangente no país não é uma tarefa simples, pois
exige responsabilidade governamental e o empenho de todos os interessados.
Alguns podem até ver isto como uma utopia, mas o ensino bilíngüe nas escolas bilíngües
brasileiras tem sido um sucesso. Claro, são as chamadas escolas da elite, porém
são escolas modelos que deram certo acerca do ensino bilíngüe formal no país.
Na medida em que ganharam prestigio, muitas instituições bilíngües brasileiras
e internacionais influenciaram outras escolas menores que se mostram
interessadas a migrarem ou adotarem um currículo bilíngüe. Este é o maior sinal
de como será o cenário nacional da educação brasileira, muito em breve.
Essa onda de educação bilíngüe
em outras escolas é uma tendência que pode ajudar os alunos do ensino superior.
Muitos desses alunos são capazes de ler e escrever em língua estrangeira. O
idioma inglês geralmente é a língua estrangeira mais comum aqui no Brasil, mas
eles não se sentem confortáveis em falar essa língua. Isso ocorre porque
aprender a fonética de uma língua estrangeira é quase ou mais complexo do que a
prender a própria língua estrangeira. Além disso, muitos adultos não se sentem
bem ou não se sentem preparados para aprender os sons da língua alvo. A esse
respeito, Hagége afirma que o individuo que fala uma língua estrangeira precisa
aprender os sons e os gestos culturais característicos da língua, gestos lingüísticos,
que para pronunciá-los é necessário o uso de diversos órgãos cujos movimentos
podem ser considerados como gestos culturais.
"Aprender
a falar uma língua é, pois, adquirir gestos, que dizem respeito, no aprendiz,
aos locutores naturais dessa língua, mas também aos compatriotas em companhia
dos quais ele estuda numa classe de liceu. Não é evidente que o aluno adulto
esteja sempre disposto a executar esses gestos com toda a serenidade."
(HAGÉGE, 1996, p.154). No ensino superior, os alunos já estão na fase adulta e,
de fato, apresentam enormes dificuldades para produzir sons da língua inglesa,
como língua estrangeira. Este fato reforça ainda mais a necessidade das escolas
começarem a prover oportunidades de educação bilíngüe desde as series iniciais,
pois as crianças são abertas a aprendizagem e dificilmente tem vergonha de
produzir sons estrangeiros que não existem na sua língua materna e que causam
algum desconforto para o adulto.
Para o adulto, a
produção dos sons estrangeiros pode representar um problema para aprender a
fonética de uma língua estrangeira. "Com
efeito, estas articulações legíveis, que não assustam a criança, são freqüentemente
as que o adulto mais receia imitar, porque não ousa confrontar o escárnio,
senão a hostilidade dos seus contemporâneos perante o insólito."
(HAGÉGE, 1996, p.154). Realmente, por exemplo, muitos sons da língua inglesa
são diferentes ou não existe o equivalente em português. São sons totalmente
estranhos aos hábitos articulatórios de adultos cuja língua materna é o
português. No inglês, as palavras (they, think, thick = eles, pensar, espesso),
observa-se que o "th" está presente nessas três palavras.
Suas diferentes
pronúncias não existem na fonética do idioma português e são totalmente
estranhos aos nossos hábitos articulatórios. A maioria dos adultos não está
habituada e por isso não ousarão aprende-los por receio dos sacarmos,
desconforto ou vergonha perante aos ostros estudantes. Evidentemente, não
podemos afirmar isso de forma generalizada, pois muitos adultos encaram esses
desafios e aprendem a fonética de uma dada língua estrangeira com serenidade e
com muita naturalidade. No entanto, são poucos adultos e casos isolados. A
presença do idioma inglês e a crescente necessidades de comunicação nessa
língua podem contribuir e abrir a mente de muitos indivíduos. Conseqüentemente,
isso os faz encarar tudo com muita serenidade.
A presença da língua
inglesa nos rodeia aonde quer que vá. Essa presença é evidente em diferentes
modalidades, (escrita ou falada), nas ruas, no trabalho, na Internet, redes
sociais, programas de TV, entre outros meios de comunicação. Através dessas
modalidades, somos bombardeados de informações que requerem de nós
conhecimentos dessa língua. Esses conhecimentos são exigidos tanto nos
ambientes educacionais e profissionais quanto nos nossos lares. Por isso, um projeto
de lei que apóia um programa de educação bilíngüe, formal e abrangente no país,
pode beneficiar toda a população. Neste caso, a camada da população mais
necessitada são os alunos do ensino superior, estudantes e futuros
profissionais das grandes empresas espalhadas em território nacional.
A educação bilíngüe se
mostra um novo paradigma, uma nova missão para o sistema educacional
brasileiro. Acreditamos que este é um momento propicio para revermos os novos
desafios e fazer as reformas necessárias. Por isso, "Conhecer a sociedade em que se vive e as suas necessidades é
essencial para que se possa estar ciente do que nos cerca, dos movimentos que
conduzem o mundo e a cada um de nós e, tendo como base o conhecimento
cientifico da sociedade e da educação, é possível encontrar caminhos para a
tomada de decisões ou as reformas sociais." (TURA, 2002, p.39). Os
governantes e políticos do país estão cientes das necessidades para a sociedade
brasileira. Uma aprovação para a educação bilíngüe abrangente pode ajudar
profissionalmente e aumentara a empregabilidade, principalmente nas grandes
cidades e nas cidades turísticas existentes de norte a sul do Brasil.
A prática educativa
carece acompanhar as transformações sociais, é preciso levar em consideração as
mudanças e as necessidades das comunidades e dos grupos sociais de todo o país.
No
Brasil, assim como acontece em outros países da América Latina e no mundo como
um todo, o direito à educação bilíngüe passou a ser reconhecido para falantes
de línguas maternas que são o português nos contextos de educação indígena e
educação de surdos. Também a presença de línguas em contato em regiões
fronteiriças tem gerado iniciativas de educação bilíngüe como se vê no Projeto
Escolas de Fronteira do Mercosul Educacional e na criação da Universidade
Federal de Integração Latino Americana (UNILA). (ROCHA, TONELLI & SILVA,
2010, pp.270 - 271).
Por causa das
fronteiras com outros países, ou carência de uma língua específica, as diferentes
regiões e comunidades carecem de segunda-línguas também diferentes. Todos
precisam ter esse direito, mas o idioma inglês se mostra uma necessidade
internacional. Conseqüentemente, a carência de ensino bilíngüe abrangente no
país (português/inglês), surge também a necessidade de instituições e
profissionais competentes que forneçam, efetivamente, essa educação. Sugerimos
o inglês como segunda língua, pelo seu poderio, valor e relevância para a
comunidade internacional e por ser uma potencia mundial. A língua inglesa faz
fronteira com todas as nações do planeta. Isso é o suficiente para percebemos a
necessidade de um ensino bilíngüe, português/inglês.
Desde 1980, quando no
Brasil surgiram as primeiras escolas bilíngües, o número de escolas era
pequeno, mas desde então tem crescido muito. Esse crescimento se deu por causa
da valorização da aprendizagem de uma segunda língua, neste caso o inglês se
destaca.
Embora
os filhos das camadas dominantes sempre tenham tido acesso a educação bilíngüe,
seja através de viagens de estudos, preceptoras, etc., parte das classes medias
recentemente também têm procurado proporcionar educação bilíngüe a seus filhos,
movidos pela competitividade do mercado de trabalho e pelas mudanças na
percepção do bilingüismo como beneficio ao desenvolvimento das crianças e não
mais como um empecilho." (ROCHA, TONELLI & SILVA, 2010, p.277).
As autoras colocam que
o bilingüismo já foi visto como um empecilho, um vilão no processo de
alfabetização das crianças, porém esse olhar equivocado já foi superado. Nos
dias atuais, a educação bilíngüe é vista como parceira nesse processo. Assim
sendo, vemos o bilingüismo como um grande aliado para a melhor formação dos
jovens que futuramente darão inícios a seus estudos no ensino superior. O
modelo de educação bilíngüe promove uma educação de qualidade e excelência para
que os jovens encarem os inúmeros desafios nas universidades e no mercado de
trabalho com as habilidades e competências que em um ensino monolíngüe, o aluno
não terá as mesmas oportunidades de desenvolver de maneira efetiva.
Em época de eleição,
políticos expõem diferentes propostas de educação. A permanência das crianças
na escola em período integral é uma delas. Para este tipo de proposta, vemos a
educação bilíngüe como uma boa oportunidade de manter as crianças ocupadas e
aprendendo o dia todo através de atividades diferenciadas nas duas línguas
definidas pelos órgãos competentes. O bilingüismo seria de grande valia e um
rico suporte para o sistema educacional de ensino brasileiro. Atividades em
inglês, por exemplo, podem auxiliar os jovens na construção de conceitos que
serão aplicados em diferentes situações e por toda vida do estudante. "Pesquisas têm demonstrado que quando
um conhecimento é construído em uma língua ele não precisa ser ensinado
novamente em outra língua, pois pode ser transferido de uma língua para outra
desde que as condições sejam garantidas, como vocabulário específico."
(ROCHA, TONELLI & SILVA, 2010, p.291). Enxergamos o ensino bilíngüe como
uma maneira de ampliar a comunicação, a interculturalidade e não só a
aprendizagem de uma segunda língua. Nessa expectativa, os alunos do ensino
superior chegarão a este nível de ensino e ao mercado de trabalho com essas qualificações, além do
domínio fluente da língua estrangeira, tão almejada por esses alunos e
profissionais em todo Brasil.
Por causa da grande
influência do idioma inglês no cenário mundial, muitas escolas de idiomas,
principalmente de inglês e espanhol, surgem em cada esquina das grandes
cidades. Trata-se de uma espécie de universalização do ensino desses idiomas.
Além dessas escolas, surgem também as novas escolas bilíngües ou as escolas
regulares que implantam os currículos bilíngües. Isso nos mostra que o sistema
de educação brasileiro precisa de uma reforma, precisa se atualizar acerca das
tendências e acompanhar a evolução social da população e suas necessidades.
A língua inglesa esta
presente em nossas vidas a todo o momento, mesmo que você não seja um aluno de
escola bilíngüe. Por isso, por que não adotar esse idioma como língua de
instrução nas escolas ou universidades? A idéia de ensino bilíngüe é ensinar
língua e conteúdo de forma integrada. Na Europa, criou-se um termo em inglês
(CLIL – Content and Language Integrated Learning). Esse termo foi criado em
1994, mas, segundo Mehisto (2008), essa prática já era usada a milhares de
anos. "The first known CLIL - type programme dates back
some 5000 years to what is now modern-day Iraq." (MEHISTO, 2008, p.9). [O primeiro tipo de programa CLIL conhecido
surgiu a cerca de 5.000 anos para o que é agora o atual Iraque]. (Tradução nossa).
Segundo o autor, os
(Akkadians), povo que conquistou os (Samerians), queriam aprender a língua
local. (Samerian) então foi usada como língua de instrução para ensinar várias
disciplinas para os (Akkadians) inclusive teologia, botânica e zoologia. Com
base nos fatos históricos, esse modelo de ensino de linguagem se mostrado
eficiente, por isso recomendamos a importância dessa abordagem metodológica.
Outro exemplo de uso de segunda língua para ensinar conteúdo em larga escala
foi o uso do Latim. Por muitos séculos, o Latim como língua de instrução nas
universidades européias e se tornou, como é o caso moderno do idioma inglês, a
língua dominante em vários campos do conhecimento, no direito, na medicina, na
teologia, na ciência, na filosofia etc.
A implantação do inglês
como língua de instrução, em um sistema de educação bilíngüe abrangente, não
significa desvalorizar a língua materna dos estudantes. A proposta é dar
suporte para a primeira língua e auxiliar no desenvolvimento cognitivo através
das duas línguas, a materna e a estrangeira. No modelo de educação bilíngüe
oferece um programa de ensino por imersão. Esse modelo tem apresentado sucesso
no mundo inteiro, dando suporte a primeira língua e vice-versa, pois, como
explica Mehisto (2008), o ensino da segunda língua separadamente não tem
apresentado resultados satisfatórios em larga escala.
Como a língua inglesa
tem sido o carro chefe neste mundo globalizado e moderno, nos parece ser a
língua mais relevante para ser inserida no contexto educacional através da
imersão. A língua inglesa já é a segunda língua ensina nas escolas, mas ela é
ensinada como uma disciplina isolada das outras. Esse modelo de ensino não é o
ideal. Vivemos em um mundo integrado e através da educação bilíngüe, ensino de
imersão em inglês, é uma forma de educação moderna, revolucionaria e eficaz
capaz de equipar os estudantes com o domínio do inglês, como segunda língua, e com
conhecimento e habilidades lingüísticas e culturais que os preparam para viver
e encarar os desafios do mundo moderno.
Na sociedade global em
que vivemos, os alunos aprendem a língua inglesa para usar agora, neste exato
momento e não no futuro quando precisar. Sobretudo as novas gerações fazem o
uso do inglês quase que imediatamente e na medida em que aprende a língua, pois
há situações e oportunidades para isso. Podemos pensar, por exemplo, mesmo as
crianças pequenas já tentam entender as instruções em seus videogames modernos
e sofisticados. As instruções são em inglês. São essas as gerações que temos
nas salas de aula de escolas brasileiras, por isso há a necessidade de um
ensino bilíngüe cuja imersão em língua inglesa ocorra efetivamente e através de
professores qualificados.
Os professores também
precisam de suporte e treinamento constante, como também muito incentivo para
encarar esse desafio. É necessário o envolvimento de professores, pais e
comunidades e o governo para garantir o sucesso de um projeto bilíngüe e
inovador em todo o país. Os professores cuja formação é letras e pedagogia será
peça-chave nesse novo desafio. Os profissionais, portanto precisam ser
preparados. Devem dominar os diversos conteúdos como matemáticos e a ciência,
historia e geografia, áreas de negocio enfim. É preciso repensar a formação
desse novo profissional bilíngüe, pois na educação bilíngüe, as aulas são
ministradas em duas línguas (inglês/português) porém, evidentemente, a primeira
língua deve ser o carro chefe.
Inicialmente a língua
inglesa, como língua de imersão, deve ser inserida parcialmente. Dessa maneira,
os alunos têm suas aulas em português e em inglês. No ensino primário, os
alunos aprendem uma segunda língua rapidamente e com muito mais facilidade.
Logo passam a entender os comandos e as instruções em inglês e serão capazes de
responder bem à imersão nessa língua. No entanto, para garantir a eficácia
desse modelo de ensino, sua manutenção carece muita consistência, tanto da
metodologia quanto da preparação requeridos profissionais.
Já temos no Brasil o
programa Ciência Sem Fronteira. Projetos como esse podem ser ampliados e
melhorados. Por um período de tempo, por exemplo, falantes nativos da língua
inglesa podem trabalhar nas escolas públicas brasileiras enquanto professores
brasileiros podem trabalhar em escolas públicas de países de língua inglesa.
Essa pode ser uma ótima possibilidade de garantir o desenvolvimento
profissional e a troca cultural entre os profissionais envolvidos. A ideia é
parecida com o Programa Mais Médicos que faz parte de um amplo pacto de
melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde, que prevê
investimento em infra-estrutura dos hospitais e unidades de saúde, além de
levar mais médicos para regiões onde não existem profissionais. No caso do Brasil,
para atuarem no programa de imersão bilíngüe, existem muitos profissionais,
porém carecem de mais preparo para ministrar aulas em inglês.
Para tanto, é ideal
envolver as autoridades competentes dos pais, universidades e escolas em geral,
pois esses órgãos entendem as necessidades doas instituições e dos
profissionais e como prover o suporte carecido. Professores necessitam de
constante treinamento em sua pratica de ensino, apoio financeiro e principalmente
qualificação para um programa de imersão como esse, uma vez que a comunicação
oral deverá ocorrer efetivamente nas duas línguas. "A língua é, como para Saussure, um fato social, cuja existência
se funda nas necessidades da comunicação. Mas do contrário da lingüística
unificante de Saussure e de seus herdeiros, que faz da língua um objeto
abstrato ideal, que se consagra a ela como sistema sincrônico homogêneo e
rejeita suas manifestações (a fala) individuais (...)." (BAKHTIN,
2006, p.7).
Acreditamos que para
preparar e qualificar os profissionais brasileiros para um programa de imersão bilíngüe
e prepará-los apenas para se comunicar em língua inglesa não será o suficiente.
Na imersão bilíngüe, a comunicação oral em inglês deve estar tão presente e
eficaz quanto à mesma habilidade em português. Dessa forma, os profissionais
terão aperfeiçoamento na oralidade da língua, nos aspectos lingüísticos e
culturais. Esse processo de aperfeiçoamento ocorrerá, sobretudo através dos
intercâmbios profissionais. Vemos que Bakhtin critica a teoria de Saussuriana
por não considerar a fala, ou seja, a oralidade como sendo uma composição
sistêmica da língua. Para nós, a fala deve ter seu valor na constituição da
língua, pois sua natureza é social e está ligada a comunicação e a estrutura
social da língua. A oralidade é responsável pelas transformações lingüísticas
que refletem diretamente na língua. Portanto, a comunicação verbal não deve ser
separada das outras formas de comunicação.
Inúmeras palavras do
idioma inglês já estão presentes tanto na oralidade quanto na comunicação
escrita, em língua portuguesa. Acerca do uso da língua nas ultimas décadas, os
indivíduos tem se utilizado de várias expressões e palavras desse idioma,
espontaneamente, na língua portuguesa. Muitas palavras da língua inglesa (por
exemplo: bye, lanhouse, bandaid, banana split, streaptease, bacon, diet, light,
outdoor, shopping center, piercing, etc.) são espontaneamente usadas tanto na
oralidade como na comunicação escrita freqüentemente. Podem ser considerados
vocabulários comuns no nosso dia-a-dia. Essas influências do inglês na nossa
língua são percebidas praticamente em todas as áreas do conhecimento. São os
famosos empréstimos lingüísticos que nos levam a um status de falantes bilíngües,
pois fazemos uso de duas línguas - português e inglês.
Geralmente, esses
empréstimos lingüísticos são usados diariamente, principalmente pelas novas
gerações. Sabemos que existem os exageros, pois muitos indivíduos substituem
palavras do português por palavras em inglês, de forma desnecessária, quando
poderiam usar palavras em português sem nenhuma dificuldade. Independente do
caso, existem as tendências do uso de vocabulários em inglês, na língua
portuguesa. Isso nos coloca em um contexto evidente de bilingüismo. Por esses
entre outros argumentos, acreditamos que um programa de imersão bilíngüe nas
escolas das grandes cidades do Brasil terá grande aceitação. A imersão bilíngüe
em inglês e português nessas cidades, ao torna-se uma pratica homogenia, poderá
preparar os futuros universitários para os desafios para eles propostos nas
universidades do país, além de se prepararem para encarar formalmente e
naturalmente o que já existe na nossa língua, o bilingüismo.
Entre outras línguas,
através dos empréstimos lingüísticos, a língua portuguesa tem evoluído e se
modificado constantemente. Na visão de Bakhtin (2006), "A evolução da língua obedece a uma dinâmica positivamente
conotada, ao contrário do que afirma a concepção saussuriana. A variação é
inerente a língua e reflete variações sociais; se, efetivamente, a evolução,
por um lado, obedece as leis internas (reconstrução analógica, economia), ela
é, sobretudo, regida por leis externas, de natureza social." (BAKHTIN,
2006, p.8). As palavras de uma dada língua são por natureza, como sugere
Bakhtin, signos vivos e móveis, plurivalentes, e as pessoas têm usado palavras
e expressões do idioma inglês, em português. Isso demonstra essa vivacidade que
se move de uma língua para a outra, além de comprovar a pluralidade da língua
inglesa no mundo.
Isso faz da língua
inglesa um idioma plural, pois consegue influenciar, através de empréstimos lingüísticos,
outras línguas não só na comunicação escrita, mas também na oralidade, na
fonética, ou seja, na fala dos indivíduos no país inteiro, os quais muitas
vezes sequer falam ou aprenderam essa língua, mas se utilizam de várias
palavras desconhecidas, mas que tem seu sindicado num dado contexto. Por isso,
Aceitar o fato da importância de um programa de imersão bilíngüe nas nossas
escolas, o que proverá uma base essencial para a formação dos alunos no ensino
superior, é uma tomada de consciência sobre a realidade social e que de forma
global ampliara nossa visão de mundo.
Claude Hagége (1996)
discute sobre questões fonéticas da língua estrangeira. Quando se trata dos
sons fonéticos numa outra língua, o riso e a ironia tornam-se conseqüências que
se manifestam no comportamento de outros indivíduos.
Se se
admitir que os movimentos articulatórios são gestos familiares a todos os que
falam uma mesma língua, torna-se então claro, que eles pertencem a uma cultura
e que, se não são adequados (caso do estrangeiro que pronuncia a língua dos
autóctones que o ouvem) ou não são habituais (caso do compatriota que se
esforça por pronunciar uma língua estrangeira), são susceptíveis de conter,
quer se queira que não, um poder cômico Mas essa situação não diz respeito se
não ao adulto. A angustia do ridículo não consome a criança. (HAGÉGE,1996,
p.159).
Acerca desse tema,
concordamos com o autor. Ele finaliza e conclui que adultos sofrem com a angústia
do ridículo, mas isso não afeta a criança, por isso é ideal e importante que um
ensino de segunda língua através de imersão seja iniciado o mais cedo possível.
Assim no nosso caso, o idioma inglês e a aprendizagem bilíngüe devem acontecer
de forma natural e sem empecilhos que de fato afetam a aprendizagem dos
adultos. Por sua vez, sobre essa questão, Bakhtin (2006) pondera que se
tomarmos um som de qualquer língua, um fonema, um som produzido por um indivíduo
mesmo que ele seja um falante nativo da língua em questão, ele ou ela produzira
um som individual único, próprio do sujeito falante. "O som fisiológico (ou individual) é, no final das contas, tão
único quanto é a única a impressão digital de um individuo dado, tão único como
a composição química individual do sangue de cada pessoa (embora a ciência não
seja ainda capaz de definir formulas individuais do sangue)."
(BAKHTIN, 2006, p.69).
Pode-se dizer que essa
percepção ou capacidade de captar particularidades fonéticas (sons diferentes
ou estranhos aos nossos ouvidos) esta mais presentes nas atitudes dos adultos,
ou pelo menos eles, os adultos têm essa consciência fonética ou preocupação em
se expor ou perceber as diferenças. Por sua vez, ao contrário, a criança está
atenta às curiosidades, aos novos sons e isso a faz aprender o novo fonema ou
sistema fonético da língua. E isso ocorre quase sem empecilhos ou obstáculos.
Essa é uma das vantagens que garante a aprendizagem de uma segunda língua, seu
sistema fonético, vocabulários, entre outros recursos ou elementos lingüísticos.
Já os adultos, por causa dos bloqueios, não aceitação ou até mesmo por timidez
ou vergonha de produzir os sons estrangeiros, não se permitem aprender com
tanta facilidade, pois já possuem habilidades, recursos e elementos lingüísticos
de sua língua materna bem definidos e fechados, por isso apresentam
dificuldades ou suas mentes se fecham para aquilo que não faz parte do seu
repertório já adquirido através de sua primeira língua.
Com
base em todos os apontamentos discutidos até então, podemos afirmar que os
fatos nos mostram que somos todos bilíngües informais, mesmo que de modo
inconsciente, mas que um sistema de educação bilíngüe formal será capaz de
oficializar esse status presente em tantos países ao redor do mundo. Mas que
apesar das vantagens em aprender uma segunda língua, das necessidades sociais
no país, a implantação e os resultados positivos de um sistema de educação bilíngüe
formal implicam investimentos, desejos e reivindicação social aos direitos
civis, a política e a educação bilíngüe de qualidade para todos, uma vez que o bilingüismo
é um fenômeno global presente em cada metro quadrado a nossa volta.
Considerações finais
A partir dos apontamentos dos
autores discutidos até então, concluímos que a educação bilíngüe formal precisa
ter seu lugar ao sol. Segundo Garcia (2009), a educação bilíngüe é uma prática que
acontece há quase 5,000 anos. No passado isso era visto como algo enriquecedor,
não uma ameaça. Apesar de no meio do caminho esse tipo de educação tenha sido
severamente criticada, nas ultimas décadas a educação bilíngüe passou a ser
vista como uma maneira moderna capaz de revolucionar o ensino de línguas no
mundo e de formar cidadãos globais.
É desse tipo de cidadão que o mundo
corporativo espera receber. Isto é, requer profissionais que dominam o idioma
inglês ou outras línguas, pois, nesses seguimentos, as empresas exigem
conhecimento de uma segunda ou terceira língua. Por isso, optar por uma educação
formal bilíngüe é uma maneira de contemplar e satisfazer essa necessidade
social. Em suma, a nosso ver, a educação bilíngüe formal se mostra uma evidência
e que pede urgência para acontecer a nível nacional, pois vivemos na era da
informação moderna e, como nunca antes, isso tem exigido dos jovens o
desempenho de múltiplas habilidades no processo de letramento.
Por essas e
outras justificativas, acreditamos que a educação bilíngüe se faz necessária
para todos os alunos, não apenas para a elite do país. Além disso, vários
estudos têm mostrado que a globalização e as novas tecnologias da informação
pedem urgência de mudança nas escolas e isso cria uma nova missão para a
educação. Portanto, a educação como um todo, e principalmente a educação
bilíngüe, se mostra um novo paradigma, uma nova missão para o sistema
educacional brasileiro. É hora de repensar o nosso modelo nacional de educação.
Referências Bibliográficas
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MORAIS, J. F. S.
Sobre o autor:
Graduação em
Letras (Português e Inglês) pela Universidade Ibirapuera de São Paulo (2004).
Especialista em Língua Inglesa pelo Centro Universitário Ibero-Americano
(2008). Graduação em Pedagogia pela Universidade Nove de Julho (2012).
Pós-graduado em Didática e Metodologia do Ensino Superior (2014) e tradução
(Inglês e Português) pelo Centro Universitário Anhanguera de São Paulo (2016).
Experiência no ensino de línguas desde 2000 e atualmente é professor em escola
bilíngue e tradutor freelance.
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