Uma Séria “Viagem na Batatinha”
Figuras de Linguagem: Estilística do Som e seus Efeitos – Uma Séria “Viagem
na Batatinha”
Berro pelo
aterro
pelo desterro
berro por seu berro pelo seu erro
quero que você ganhe que você me apanhe
sou o seu bezerro gritando mamãe."
(Caetano Veloso) .
berro por seu berro pelo seu erro
quero que você ganhe que você me apanhe
sou o seu bezerro gritando mamãe."
(Caetano Veloso) .
A presença de anáfora,
na estrofe, sugere ou enfatiza um possível sentimento de angustia, desespero e
de tristeza de um individuo em relação à outra pessoa e sua atitude. O uso do
substantivo “bezerro” reforça essa ideia, pois quando um bezerro é desmamado,
ou seja, quando ele é separado da mãe, ele sofre muito: chora, berra e corre.
Uma forma característica de esse animal demonstrar sinal de desespero por causa
dessa separação.
O uso de paronomásia
(aterro, desterro, erro, bezerro), além do efeito de sonoridade e rima, sugere
que um dos indivíduos cometeu um erro grave ou atitude erronia. Porém, a
aliteração (repetição da consoante “R”) juntamente com a assonância (repetição
do som da vogal “O”) pode sugerir risos ou felicidade, pois o individuo ainda
gosta ou considera o outro. A paronomásia (ganhe, apanhe), sobretudo o som
nasal da vogal “A” juntamente com a consoante “N”, sugere um choro forte ou
escandaloso e sentimento de tristeza.
Os versos ao longo da
estrofe sugerem que um indivíduo está triste e desapontado com outro individuo,
mas ainda tem o desejo de ouvir e de se expressar, com o intuito de consertar
algo que deu errado. Isso é sugerido, principalmente, no segundo verso (berro
por seu berro pelo seu erro ) da estrofe. Desse modo, o indivíduo ainda se
sente feliz, pois há esperança de acertar as coisas, apesar de haver muita
tristeza, pois um erro grave foi cometido.
TANTA TINTA
Cecília Meireles
(Sentou-se na
ponte,
muito desatenta. . .
E
agora se espanta:
Quem é que a ponte pinta
com tanta tinta?. . .)
A aliteração do “T”
possivelmente sugere a entonação prolongada da palavra (tanta), sobretudo o
prolongamento da consoante “T”. Por sua vez, as consoantes M e N sugerem o vai
e vem do pincel ao mesmo tempo em que o artista produz esses sons das
consoantes nasais.
A ponte aponta
e
se desaponta.
A
tontinha tenta
limpar a tinta,
ponto por ponto
e pinta por pinta. . .
A palavra ponte pode
significar uma pessoa que aponta em alguma direção (ação). A palavra
(desaponta) sugere arrependimento de algo que já foi feito. Já a palavra
(tontinha) pode representar uma pessoa que se desaponta e isso, apesar de algo
pequeno, faz uma tempestade em copo d’água, pois quer corrigir um possível erro
que deve ser resolvido (ponto por ponto e pinta por pinta). Podemos também
dizer que um indivíduo esta pintando algo, de repente surge uma tontinha (um
tom indesejado) que o individuo tentar eliminar da obra.
QUADRILHA
Carlos Drummond de Andrade
João
amava Teresa que amava Raimundo
que
amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que
não amava ninguém.
João
foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo
morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim
suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que
não tinha entrado na história.
A repetição do pretérito imperfeito “amava”
além de produzir uma sensação musical ou coreográfica da quadrilha ela
acrescenta um sentimento que nunca termina um sentimento de amor, ou seja, um
sentimento ou emoção que sempre se renova. O pretérito imperfeito sugere a ideia
de algo que teve inicio em um passado longínquo e que da mesma forma será,
ainda que no futuro. O amor, o sentimento e as emoções sempre existirão em
nossas vidas. Tanto no passado quanto no futuro haverá (história) emoções e
sentimentos, ou seja, a palavra historia sugere que tudo isso continua e
continuara se repetindo sempre.
Havia um pernilongo
chamado Lino
que
tocava violino.
Mas
era tão pequenino
o
Lino
e
tocava tão fino
o
seu violino,
que
nunca ouvi o Lino
nem
vi o Lino.
Sim, acreditamos que as emoções sugeridas
estão corretas (violino e pequenino), bem como à ideia de
“agudeza” (fino). Ao ler o poema, podemos imaginar alguém tocando o
instrumento e produzido seu som característico, seu som agudo.
Meu Deus,
me dê a coragem
Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços o meu pecado de pensar.
Clarice
Lispector
As
repetições no texto são anáforas: “me dê a coragem...”, “Faça com que...”. Elas
passam a ideia de vontade e desejo, como também o aumento da intensidade a
ponto de pedir e implorar para que a vontade e o desejo sejam realizados,
alcançados. Logo no inicio, no titulo, identificamos anacoluto: “Meu Deus, me
dê a coragem” – anacoluto. Em seguida, zeugma e hipérbole: “me dê a coragem de
viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites” – zeugma e hipérbole. A
presença de paradoxo também: “todos vazios de Tua presença” – paradoxo. “Te
amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo” – paradoxo. Por
ultimo, encontramos zeugma, metáfora e antítese e metonímia: “Tuas ofensas à
minha alma e ao meu corpo” – zeugma. “Faça com que a solidão não me destrua”.
(solidão = metáfora). “Ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se
estivesse plena de tudo”. – antítese. “Receba em teus braços o meu pecado de
pensar” – metonímia.
Todo caminho da gente é resvaloso.
Mas também, cair não prejudica demais
A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!...
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim:
Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
Sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria,
E ainda mais alegre no meio da tristeza...
Mas também, cair não prejudica demais
A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!...
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim:
Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
Sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria,
E ainda mais alegre no meio da tristeza...
João Guimarães Rosa
A “gente” = anáfora,
pois se repete no inicio da frase. “A gente levanta, a
gente sobe, a gente volta!...”. O correr da vida = prosopopeia, pois se trata de uma
personificação. “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: Esquenta e
esfria, aperta e daí afrouxa, Sossega e depois desinquieta”. Literalmente, a
vida não faz tudo isso! Identificamos pleonasmo em, “Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria,”. Por ultimo, encontramos a presença de
antítese em, “E ainda mais alegre no meio da tristeza...”
MORAIS, J. F. S.
MORAIS, J. F. S.
Sobre o autor:
Graduação em
Letras (Português e Inglês) pela Universidade Ibirapuera de São Paulo (2004).
Especialista em Língua Inglesa pelo Centro Universitário Ibero-Americano
(2008). Graduação em Pedagogia pela Universidade Nove de Julho (2012).
Pós-graduado em Didática e Metodologia do Ensino Superior (2014) e tradução
(Inglês e Português) pelo Centro Universitário Anhanguera de São Paulo (2016).
Experiência no ensino de línguas desde 2000 e atualmente é professor em escola
bilíngue e tradutor freelance.
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